Zé Kétti, por Geisa Flores
Zé Kétti, Multimídia
"Eu considero que o compositor Zé Kétti, meu pai, esteve sempre preocupado em levar o samba para todas as camadas sociais, como cronista das desilusões e esperanças dos menos favorecidos; daí se dá o fato de ser intitulado como A Voz do Morro. Suas músicas expressaram o amor e a alegria, mas, sobretudo, a carência e o sofrimento de um povo sufocado pela ditadura militar. Zé Kétti, o sambista mais politizado do Rio de Janeiro, tinha ideais comunistas, e brilhou como compositor nas décadas de maior efervescência nas transformações políticas no país. Ele soube se aproveitar disso. |
Zé Kétti, cidadão samba e boêmio namorador, mas também trabalhador da Previdência Social, antigo INSS, de onde era escriturário; deixava o paletó na cadeira, batia o ponto e saía para batalhar pela música popular brasileira, tentando, principalmente, regulamentar a profissão de compositor e cantor, sempre ligado à classe, ele era um agitador. As questões sócio-econômicas estiveram sempre à frente de sua vida pessoal. Lutar pelo samba era se valer dele como porta-voz de importantes reivindicações.
O compositor era multimídia quando a palavra ainda nem era usada. Zé Kétti foi assim, a voz de todos os morros, e dentro do cenário artístico musical, ele conseguiu promover o samba e seus representantes, ele se fez perceber através do gênero, antes bastante marginalizado, que após Zé Kétti passou a ter identidade cultural, pois o Zé, conhecido também com Zé Quietinho, teve um comportamento nada quieto. Ele não parava, parecia ter um bicho-carpinteiro, conseguindo assim colocar o samba, especialmente nas décadas de 50 e 60, nas mais diversas áreas. |
Foi gravado por mais de 40 nomes da MPB e na época pelos mais concorridos cantores, como Linda Batista, Jorge Goulart, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Jair Rodrigues, Caubi Peixoto, Nara Leão, MPB - 4, Elizeth Cardoso, Ciro Monteiro, Wilson Simonal, Paulinho da Viola...
Participou como ator, cameraman e fez trilha sonora para vários filmes: Rio 40 graus, Rio Zona Norte, Boca de Ouro (de Nelson Pereira Santos), A Falecida (Nelson Rodrigues), Gimba, o Desafio, Mar Corrente, O Homem do Rio, A Grande Cidade (de Cacá Diegues), Luar Sobre Parador, filme internacional, em que contracenou com Grande Otelo e Jece Valadão, ficando conhecido nacionalmente.
Zé Kétti foi do Cinema Novo, do Café Nice, do Zicartola, do Teatro Opinião, das Rodas de Samba nos quintais e botequins, foi boêmio, foi Zé das Madrugadas, foi das Escolas de Samba Portela, União de Vaz Lobo e Mangueira, dos salões de Carnaval, dos festivais de música, do rádio, da televisão, das manchetes de revistas e jornais, foi líder pelos Direitos Autorais, dos movimentos políticos (sutilmente), foi o Rei dos Terreiros, foi das Cabrochas e Colombinas, da Música Popular Brasileira, do samba, das multidões, do povo, foi um mestre. |
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Zé Kétti, o Zeca, atuou como o Rei Negro do Samba e lutou pelo que mais acreditou na vida: a Música. E a luta valeu.
Partiu com 60 anos de carreira, deixando 300 composições. Com essa bagagem, ao meu ver, José Flores (Kétti) de Jesus, o meu velho pai, é para a história da Música Popular Brasileira, a maior expressão e o mais significativo e autêntico representante do samba no cenário sócio-cultural do Brasil."
Geisa Flores é jornalista e filha do compositor Zé Kétti
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