Celeiro de Bambas - 11
Claudionor Marcelino
Artista, genial,
m�gico...esses s�o alguns adjetivos que fazem parte do vocabul�rio dos
amigos quando pedimos para comentar sobre Claudionor Marcelino dos Santos. A
Pra�a XI foi seu palco principal e at� hoje, �poca do imponente samb�dromo,
ainda n�o apareceu quem rivalizasse com ele na arte de sambar. Seu nome ser� sempre lembrado no hall dos grandes portelenses, eternizado por Monarco em seu famoso samba "Passado de Gl�ria": |
"Paulo e Claudionor
quando chegava
na roda de samba abafava
todos corriam pra ver".
Conhe�a um pouco desse artista t�o importante para a Portela e para o carnaval
carioca, mas esquecido e ignorado pelas novas gera��es.
O fundador
Claudionor, assim como Paulo, Caetano e Rufino, fez parte do antigo bloco
"Baianinhas de Oswaldo Cruz". Era irm�o de Galdino dos Santos, l�der do grupo e
respons�vel pelo desentendimento que motivou o afastamento de alguns membros,
resultando na funda��o do "Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz", primeiro nome
da nossa Portela. Claudionor
acompanhou seus amigos e se tornou um dos principais membros do novo bloco. Mais
tarde, solucionados os problemas que motivaram o desentendimento, o pr�prio
Galdino passou a fazer parte do novo grupo, e a fam�lia p�de se reunir
novamente.
Ant�nio Caetano, amigo
pessoal que o chamava de "rei do sapateado", sempre destacou a import�ncia de
Claudionor para o sucesso da Portela em seus primeiros anos.
O Passsista da Pra�a XI
Quando come�aram as primeiras disputas na antiga Pra�a XI, Claudionor
passou a ser reconhecido e respeitado. Todos comentavam sobre os belos
espet�culos do famoso passista da ent�o "Vai Como Pode". A cada ano que passava
seu prest�gio aumentava. Era uma das figuras mais aguardadas da Portela. Se os
famosos compositores garantiam o sucesso dos sambas da escola, Claudionor era o
principal respons�vel pelos espet�culos, pela arte do samba no p�, pelos
aplausos que a escola recebia.
Claudionor foi o rei da Pra�a XI. Mesmo no in�cio da d�cada de 40, quando
a pra�a come�ou a ser destru�da para dar passagem � avenida Presidente Vargas,
Claudionor dava seu show em meio aos escombros da antiga meca dos sambistas.
Em 1940, sua fama era tanta que foi convidado para integrar o "Sodade do
Cord�o", grupo carnavalesco idealizado pelo maestro Heitor Villa-Lobos que, com
a pretens�o de reviver os antigos carnavais, contava com a presen�a, al�m de
Claudionor, de nomes como Z� Espinguela, Antenor, Ventura, Delfino e Euz�bio
Coelho. N�o foi � toa que essa iniciativa entrou para a hist�ria do carnaval
carioca.
O Serrano portelense
Claudionor sempre amou a escola que ajudou a criar, cultivando at� o fim
sua amizade com a turma de Oswaldo Cruz. Mas Claudionor sempre aprontou das
suas. Aprontou tanto que, por castigo, certa vez Paulo n�o quis pagar a roupa
para que o passista pudesse desfilar.
Como sempre foi muito esbanjador, o passista nunca tinha dinheiro para
mandar fazer sua indument�ria. Como sua presen�a era garantia de espet�culo e
lucro para a escola, Paulo sempre arrumava um jeito de colocar o artista no
desfile. Mas um dia resolveu castig�-lo, apesar da grande amizade que os unia.
Esperto, Claudionor foi at� o Prazer da Serrinha, embri�o do atual Imp�rio
Serrano, e se ofereceu para desfilar trajando cores neutras. Animados com a
chance de ter o maior passista do carnaval carioca em sua escola, os serranos
pagaram a fantasia para Claudionor. Por�m, quando sua Portela entrou na avenida,
o rei da Pra�a XI n�o pensou duas vezes: entrou junto e, deixando o cora��o
falar mais alto, seguiu com a sua escola.
O que aconteceu depois � contradit�rio: para o pessoal da Serrinha,
Claudionor acabou sendo perdoado; para os portelenses, apanhou tanto que desceu
as escadarias do Morro da Serrinha rolando.
A "Morte da baiana"
Os casos amorosos de Claudionor eram conhecidos por todos. Estava sempre
buscando novas companheiras e aventuras. Certa vez, come�ou um relacionamento
com Juracy, baiana do Prazer da Serrinha. Apesar dos avisos dos amigos, Juracy
se apaixonou completamente pelo passista.
Um dia, Claudionor, como era de costume, partiu para uma nova aventura.
Desesperada, Juracy ateou fogo ao pr�prio corpo. Seu falecimento foi um drama
para a comunidade da Serrinha, e muitos acreditaram que a escola n�o iria
desfilar, at� que Delfino, compositor oficial da escola e pai de Juracy, tirou
de sua dor o enredo que a escola apresentaria: "A morte da baiana".
As aventuras amorosas do rei dos passistas motivaram um samba do amigo
Herivelto Martins:
"Por que ser� que em toda hist�ria
Sempre existe uma mulher
Por que ser�? N�o �s capaz de responder
Fala, Claudionor
Chora no meu ombro a tua dor".
Apenas com a idade avan�ada, Claudionor resolveu se casar e ter filhos.
O melhor passista de todos os tempos
Se os passistas s�o aqueles que transmitem o ritmo do samba atrav�s da
ginga do corpo, Claudionor Marcelino dos Santos foi quem melhor expressou a
"dan�a do samba". O bom passista � aquele que transmite o ritmo atrav�s da
intui��o, tudo � cria��o, nada � ensaiado ou coreografado.
Apesar dos anos, Claudionor � reconhecido como o melhor passista que j�
pisou as diversas passarelas por onde as escolas desfilaram ao longo dos
carnavais. Claudionor brincava de dan�ar e tinha prazer em sambar. Imitava, no
ritmo do samba, os passos que o ator Charlie Chaplin eternizou no cinema com seu
personagem Carlitos, e por isso seu prest�gio ultrapassou a fronteira do tempo,
momentos rom�nticos da Pra�a XI que fazem parte de nossa hist�ria. Hist�ria n�o
s� de nossa Portela, mas de nosso carnaval, de nossa cultura.
Infelizmente, n�o existem imagens dos espet�culos de Claudionor. Pouca
gente que presenciou o "rei do sapateado" em a��o permanece vivo, mas e da�? Seu
legado est� presente at� hoje para quem freq�enta o Portel�o .
O legado de Claudionor
As pessoas que costumam freq�entar todas as quadras do Rio de Janeiro
sabem que o Portel�o possuiu uma peculiaridade que o difere das demais. Na
quadra da Portela existe samba de verdade.
L� � poss�vel encontrar grandes passistas, rodas feitas por artistas que
sabem, como poucos, expressar o ritmo do samba atrav�s do corpo. Essas rodas de
passistas j� desapareceram de grande parte de nossas quadras, mas sobrevivem
como uma das caracter�sticas fundamentais dos ensaios da Portela.
A Portela sempre foi sin�nimo de grandes sambistas, e tudo isso come�ou a
partir de Claudionor, nosso primeiro grande passista, mestre que exerceu
influ�ncia direta sobre seus seguidores. Com Claudionor, estava inaugurada a
tradi��o portelense de grandes mestres da arte de sambar.
Claudionor morreu, mas seu legado se mant�m vivo. � passado de gera��o para
gera��o, e hoje est� presente nas rodas de samba do Portel�o. Claudionor vive no
gingado de cada passista da Portela, pois, mesmo que eles n�o saibam, a "dan�a
do samba" em Oswaldo Cruz foi inaugurada com Claudionor e seus ensinamentos
transmitidos naturalmente at� nossos dias.
Depois do mestre, Tijolo, Celsinho, Bambol�, Mauricinho, Jorginho, Jo�ozinho e Ger�nimo foram outros grandes passistas masculinos que herdaram a arte do "rei do sapateado", criando ramifica��es que foram se alastrando e resultaram na infinidade de passistas gabaritados que a Portela possui hoje, uma intermin�vel �rvore que continua a crescer. E nessa �rvore de grandes passistas, cujos frutos s�o colhidos em nossa quadra, a raiz se encontra nos primeiros passos de Claudionor Marcelino dos Santos, o maior passista de todos os tempos.
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Equipe Portela Web - 2002
Pesquisa e cria��o de texto: F�bio Pav�o
Revis�o ortogr�fica: Fabr�cio Soares
Bibliografia:
CABRAL, S�rgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Ed. Lumiar, 1996.
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____ & Arthur L. de Oliveira Filho. Silas de Oliveira - Do jongo ao samba enredo. Rio de Janeiro, Funarte, 1981