Celeiro de Bambas - 17

  Boaventura dos Santos

 

 

  Em uma de suas mais famosas obras, Monarco diz: "Se eu for falar da Portela, hoje eu n�o vou terminar". Feliz da escola que tem uma hist�ria t�o rica e gloriosa quanto a nossa. S�o conquistas hist�ricas, sambas antol�gicos e personalidades que formariam uma intermin�vel escritura, a ess�ncia da verdadeira enciclop�dia musical brasileira. Se nossa hist�ria fosse realmente um livro, algumas das p�ginas mais bonitas teriam sido escritas por Boaventura dos Santos, ou simplesmente Ventura, compositor que figura em lugar de destaque em nossos mais importantes cap�tulos. O que escrever, por exemplo, sobre os nossos "sete anos de gl�ria" ? Ventura foi um dos principais protagonistas desse feito hist�rico, musicando algumas de nossas principais conquistas. Abramos agora mais uma vez o livro de nossa hist�ria para exaltar mais essa importante personagem de nosso "Celeiro de Bambas".

Ventura

   

  O carpinteiro do samba
  Boaventura dos Santos, o Ventura, nasceu em 14 de julho de 1908. Sua vida foi, como a de tantos outros companheiros, um exemplo das dificuldades que o artista popular precisa enfrentar. Apesar de seu talento, labutou como carpinteiro da f�brica da GE de Maria da Gra�a, precisando conciliar sua profiss�o com seus dotes musicais. Pai de sete filhos, Ventura enfrentou com firmeza as dificuldades que encontrou em sua vida.

  Compositor da Portela
  Com samba de Ventura, a Portela desfilou "Carnaval da vit�ria" em 1933, ano em que as escolas ainda se apresentavam cantando mais de uma obra e sem qualquer v�nculo com o enredo apresentado. Se a primeira experi�ncia rendera apenas a 4� coloca��o, foi com sambas de Ventura, anos mais tarde, que a Portela conquistou tr�s dos sete campeonatos que comp�em os seus "sete anos de gl�ria". Foram de sua autoria os sambas dos campeonatos de 1945, "Motivos patri�ticos"; 1946, "Alvorada do novo mundo"; e 1947, "Honra ao m�rito".

  O gog� de ouro
  Tarefa �rdua era desempenhada pelos antigos mestres de canto nos primeiros anos das escolas de samba. Sem qualquer tipo de aux�lio, seguravam literalmente o samba e a harmonia usando apenas a pot�ncia de suas cordas vocais, improvisando na segunda parte. Independentemente do autor do samba portelense, a escola contava com a presen�a de Ventura no desempenho dessa dif�cil miss�o. Ao lado de Alcides e Jo�o da Gente, temos os  tr�s principais cantores da Portela, chamados carinhosamente de "os tr�s gog�s de ouro da Portela".

  Sodade do Cord�o
  Quando, em 1940, Heitor Villa-Lobos criou o "Sodade do Cord�o", com a inten��o de reviver os antigos carnavais, j� saudosos naquela �poca, Ventura se tornou um dos principais respons�veis pelo sucesso do grupo, ao lado do tamb�m portelense Claudionor Marcelino e de Z� Espinguela, Antenor, Delfino e Euz�bio Coelho.  A iniciativa do maestro, aliada ao talento dos artistas populares envolvidos, obteve um sucesso t�o grande que entrou para a hist�ria do carnaval carioca, exemplo para esta �poca em que os carnavais, cada vez mais, parecem se descaracterizar ano ap�s ano.

 
   

Villa-Lobos e as m�scaras do Sodade do Cord�o. Iniciativa que entraria para a hist�ria do carnaval carioca - Foto de Fl�vio Rodrigues/Tiba

  Ventura da Velha Guarda
  No in�cio dos anos 70, Ventura participou da grava��o do primeiro LP da Velha Guarda, "Portela, passado de gl�ria". Nessa grava��o, a voz inconfund�vel do compositor ficou gravada para a posteridade. Em seus primeiros shows, quando o grupo portelense iniciava sua trajet�ria, Ventura era figura constante, tendo participado, inclusive, do show em comemora��o aos 50 anos da Semana da Arte Moderna de S�o Paulo.

  Se a Velha Guarda come�ava sua trajet�ria, infelizmente Ventura teria pouco tempo de parceria com os velhos companheiros. No dia 6 de maio de 1974, enquanto o conjunto ainda dava seus primeiros passos, Ventura deixava o grupo para integrar a Academia de sambistas celestiais, permanecendo eternamente em nossa mem�ria. Deixou como legado obras como "Vem morar comigo", em parceria com Ariosto, e "Se tu fores na Portela", inclu�da no primeiro �lbum da velha guarda.

  Um livro de sentimentos
  E l� se v�o mais de oitenta anos de gl�ria. Frias e simples palavras, meras combina��es de letras e fonemas, n�o s�o suficientes  para descrever t�o linda trajet�ria. Nossos oitenta anos s�o uma colet�nea de alegrias,  tristezas, sorrisos, l�grimas, amores,  �dios e outros sentimentos, opostos ou complementares, que se entrela�am formando uma unidade chamada Portela. Abrindo nosso "livro de sentimentos", compreendemos a m�stica portelense, sofrendo com suas dores e rindo com suas alegrias. Ser portelense, em suma, � compartilhar desses sentimentos comuns.

  � s� assim, atrav�s de sentimentos, que podemos entender a obra de Boaventura dos Santos, o eterno Ventura, e conhecer sua import�ncia para a Portela.  Com a for�a de sua voz, ergueu nosso nome ao mais alto patamar que poder�amos alcan�ar. Com a beleza de suas letras, ajudou a construir nossas gl�rias, muito al�m de sete anos.

  Quem sente os sentimentos da Portela, sente a import�ncia de cada uma de suas figuras ilustres. Sente a aus�ncia, nos momentos de tristeza, e a presen�a, nos momentos de alegria. E entre esses personagens que nos fazem mais portelenses, temos, em algumas das p�ginas mais importantes de nosso "livro de sentimentos", o nome de Boaventura dos Santos.

 


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Equipe Portela Web - 2003

 

Pesquisa e cria��o de texto: F�bio Pav�o

Revis�o ortogr�fica: Fabr�cio Soares

Bibliografia:

VARGENS, jo�o Baptista M & MONTE, Carlos. A Velha-Guarda da Portela, Rio de Janeiro, Manati,2001.

CANDEIA FILHO, Ant�nio & ARA�JO, Isnard. Escola de samba - �rvore que esqueceu a raiz. Rio de Janeiro, Ed. Lidador, 1978.