�guia, simbologia do Poder

  No sistema tot�mico das sociedades "primitivas", os animais exerciam grande influ�ncia na organiza��o social dos antigos cl�s. Eles cultuavam suas imagens sagradas, reconhecendo nelas sua unidade enquanto grupo. Em um tipo espec�fico de rito, os chamados "ritos mim�ticos, os membros adotavam comportamentos inspirados em seus h�bitos mais significativos.

 

 

�guia - 1970

Assim, nos cl�s que cultuavam a imagem da cobra, por exemplo, os indiv�duos poderiam rastejar ou adotar outros movimentos que lembrassem esse r�ptil. Sendo uma ave, os membros procurariam imitar os sons, o bater das asas e outras caracter�sticas inconfund�veis.

 

 

 Natal, grande l�der da Portela, dizia que o sambista de Madureira deveria pisar na avenida como uma �guia, sambando com a destreza de sua ave-s�mbolo. Evidencia-se, assim, o poder da �guia como inspira��o dos portelenses, ressurgindo na avenida de desfile as pr�ticas rituais mais elementares da exist�ncia humana.

Mas antes de falarmos especificamente da �guia azul-e-branca da Portela, vale a pena tra�armos um breve hist�rico sobre a import�ncia da simbologia na hist�ria da Humanidade. A simbologia concede propriedades a determinada coisa, criando um s�mbolo. Um s�mbolo representa as caracter�sticas que os homens nele imaginaram ao longo dos anos. 

�guia - 1976

  Dessa forma, o Cristianismo concebeu a serpente como s�mbolo do mal. O Imp�rio Romano reconhecia na coruja a representa��o da sabedoria. E a �guia, ao longo da hist�ria da Humanidade, desde a remota Antig�idade, est� associada a poder, for�a, robustez e velocidade. Talvez mais do que qualquer outro animal, a imagem poderosa da �guia nunca tenha passado despercebida aos olhos humanos.

 

Na B�blia, o evangelista Jo�o � comparado a uma �guia, pela profundidade dos seus escritos e capacidade de ver longe, observar as coisas do alto.

 

�guia - 1980

   

  A �guia, animal sagrado de J�piter, era o s�mbolo do pr�prio Imp�rio Romano. � frente das legi�es, o "aquilifer" transportava uma �guia de bronze. � tamb�m um animal anunciador de bons press�gios. Uma �guia pousou no ombro de Cl�udio quando este atravessava o "forum", o que foi interpretado como sinal de que o Imp�rio lhe estava destinado.

 

  Os "Kirguiz", povo guerreiro que habita as estepes da �sia Central, utilizam-na numa forma de cetraria �nica no Mundo, a ca�a ao lobo, apesar da evidente diferen�a de peso existente entre a ave e o mam�fero; e mesmo recentemente, a imagem da �guia-real � utilizada como s�mbolo de clubes desportivos e in�meras marcas de produtos.

 

Na Idade M�dia, encontramos em v�rios bras�es de fam�lias a �guia como s�mbolo. Sua presen�a insinua for�a, grandeza, coragem, nobreza de condi��o. Os anos passaram, a humanidade mudou, mas a �guia est� sempre associada ao poder, mesmo que esse poder seja exercido em prol de algum objetivo s�rdido e cruel, como nos s�mbolos nazistas e no emblema da �guia-dourada, de Napole�o Bonaparte.

 

O emblema dos Estados Unidos tamb�m � uma �guia, a �guia-de-cabe�a-branca, ou �guia careca, s�mbolo m�ximo da na��o mais poderosa do mundo contempor�neo.

 

  Em nosso pa�s, a utiliza��o da �guia como s�mbolo tamb�m esteve presente. Rui Barbosa, considerado um dos pol�ticos mais influentes do final do s�culo XIX e in�cio do s�culo XX, era chamado de "a �guia baiana". Entrou para a Hist�ria como o grande "�guia de Haia", numa refer�ncia a um c�lebre discurso proferido nesta cidade holandesa. O Pal�cio do Catete, resid�ncia do governo nos tempos de Get�lio Vargas, tem at� hoje seu telhado adornado por diversas �guias.

 

�guia - 1989

�guia - 1994

  No carnaval carioca, os s�mbolos sempre tiveram um lugar especial nas mais diversas manifesta��es. A poderosa �guia, tamb�m na folia momesca, mereceu grande destaque, estando sempre associada a grandes vit�rias, conquistas e transforma��es.

 

Imponente no Clube dos Democr�ticos, grande sociedade fundada em 1867, a �guia brilhava ao lado das cores preta e branca. Al�m de in�meras inova��es para o carnaval, destacando-se o primeiro carro aleg�rico da hist�ria da folia carioca, a �guia dos Democr�ticos esteve presente em momentos cruciais da Hist�ria do Brasil, como nas campanhas pela aboli��o da escravatura e pela proclama��o da Rep�blica. A �guia "altaneira" trazia no bico o nome dos Democr�ticos e cruzou os s�culos XIX e XX recebendo alguns dos maiores nomes da vida social brasileira.

 

Em 1907, o Ameno Resed� trouxe a �guia para brilhar tamb�m nas apresenta��es dos ranchos. Respons�vel pela grande transforma��o que ocorreu nessa manifesta��o carnavalesca, o Ameno Resed� modificou definitivamente o rumo do carnaval carioca. A �guia seguia sua trajet�ria gloriosa, escrevendo a hist�ria da cultura do Rio de Janeiro. No revolucion�rio rancho, a idolatria pode ser verificada em versos como esse, de Mut & Jeff:

"�guia altaneira, dominante e ousada Teu porte altivo na lenda encantada Traduz os feitos que nos diz a hist�ria!"

 

�guia - 1995

    A saga da �guia teria que continuar, e ap�s al�ar seu majestoso v�o sobre os ranchos e as grandes sociedades, pousou nas nascentes escolas de samba. Agora, envolvida pelo manto azul-e-branco da Portela, a "rainha dos c�us" continuaria a deixar sua marca, determinando os destinos do carnaval carioca.

  A �guia portelense foi concebida por Ant�nio Caetano, e desde os primeiros anos da d�cada de trinta brilha intensamente no altar do samba. Gloriosa �guia altaneira, soberana das passarelas, majestade do carnaval.

�guia - 1996

   A �guia portelense � o s�mbolo mais admirado, respeitado e festejado entre todas as escolas de samba. A �guia sempre goza de destacado lugar em seus desfiles. Sua entrada na avenida � um dos pontos altos do carnaval carioca, cercado de mist�rios e segredos.

�guia - 1998

  A �guia da Portela evoluiu ao longo dos carnavais. Das concep��es ing�nuas dos primeiros anos, passou a bater as asas no final dos anos 70 e no final da d�cada de 80 sa�a do ch�o gra�as a um elevador. Hoje, a �guia da Portela � sempre a alegoria da escola tratada com mais cuidado, recebendo os mais modernos recursos tecnol�gicos.

  � inexplic�vel o fasc�nio que a �guia tem sobre uma crian�a, renovando entre os jovens o amor pela Portela. Grande parte do sucesso portelense deve-se � simbologia de sua �guia. Legi�es de portelenses se formaram vendo o majestoso s�mbolo entrando na avenida, imponente, soltando seu grito de guerra, al�ando v�o sobre a avenida. Como faz desde o primeiro desfile.

  De norte a sul do Brasil, a Portela inspirou o surgimento de novas escolas. A altaneira �guia azul-e-branca, dessa forma, deixou sua marca em cada carnaval de nosso pa�s.

 Todo portelense tem um pouco de �guia, como dizia Natal. No filme de nossa gloriosa trajet�ria, a �guia � a principal protagonista. Sempre presente, impondo respeito, demonstrando for�a. Os homens passam, o s�mbolo fica. A �guia portelense � eterna. S�mbolo m�ximo de poder, na Portela e ao longo da Hist�ria.

�guia - 2001


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Equipe Portela Web - 2001

 

Pesquisa e cria��o de texto: Geraldino e F�bio Pav�o

Revis�o ortogr�fica: Fabr�cio Soares

 

Bibliografia:

 

DURKEIM, �mile - "As formas elementares da vida religiosa". Paulinas, 1989.

 

Jornal O GLOBO, 27/10/1975 "�guia altaneira, s�mbolo de pujan�a do carnaval" - Jote Efeg�

 

ARA�JO, HIram - "Carnaval, seis mil�nios de Hist�ria" Gryphus. 2000

 

______ & J�RIO, Amaury - Escolas de samba em desfile

 

CANDEIA FILHO, Ant�nio & ARA�JO, Isnard. "Escola de samba - �rvore que esqueceu a raiz". Lidador.