Quesito Bateria já teve 6 subquesitos
por Marcello Sudoh
Paradinha.
Coreografia. Aceleração. O julgamento do quesito Bateria é um dos mais
polêmicos do desfile das escolas de samba. De um lado está um grupo que
acredita que a bateria precisa criar e inovar em cada desfile, trazendo novas
paradinhas, novas bossas, novas coreografias, novos instrumentos. Do outro
lado está um grupo que também concorda com estas novidades, desde que elas
respeitem a tradição e os fundamentos da bateria de cada escola.
O Manual do Julgador da LIESA – Liga das Escolas de Samba – deixa a discussão
seguir livre quando determina, textualmente, os 3 pontos que devem ser
observados durante o desfile:
-
a manutenção regular e a
sustentação da cadência da bateria em consonância com o samba-enredo;
-
a perfeita conjugação dos
sons emitidos pelos vários instrumentos;
-
a criatividade e a
versatilidade da bateria.
A discussão gerada em torno do
tema é bastante saudável. Ajuda o segundo grupo a entender que renovação não
significa deturpação; e o primeiro grupo a compreender que tradição não é
sinônimo de conservadorismo. Mas um fato é verdadeiro: o primeiro grupo tem
sido mais ouvido pela Liga que o segundo, o que é uma pena.
O julgamento do quesito Bateria
já foi feito de forma bem diferente. Até meados da década de 80, o quesito era
julgado tendo como base 6 subquesitos: Constância, Harmonia, Arrumação,
Movimentação, Uniformidade e Postura.
Os 2 primeiros subquesitos – Constância e Harmonia
– pontuavam de 0 a 3; os outros 4 – Arrumação, Movimentação, Uniformidade e
Postura – pontuavam de 0 a 1 cada. A soma da nota máxima dos 6 subquesitos
(3+3+1+1+1+1) dava a nota máxima para a escola: 10.
O subquesito Constância julgava a manutenção do
ritmo. Os julgadores tentavam perceber a flutuação rítmica durante o desfile.
A excessiva flutação provocava a perda de pontos. O quesito era influenciado
pela evolução da escola na avenida: se atrasada, o número de batidas do surdo
aumentava para puxar a evolução da escola. Na prática, o subquesito fica –
como hoje – à mercê do que cada julgador entende como flutuação.
O subquesito Harmonia julgava a
harmonia entre os instrumentos, ou seja, sua afinação, toque e a perfeita
identificação do som de cada peça durante o desfile.
O subquesito Arrumação julgava a distribuição dos
instrumentos dentro da bateria. Na época não havia o corredor no meio da
bateria e os chocalhos desfilavam na cozinha (parte de trás da bateria). Como
hoje, a Arrumação variava muito de bateria para bateria e os instrumentos
leves – cuícas, reco-recos, agogôs, pandeiros, tamborins, pratos, chocalhos
peão, liras, xequerês etc. – ocupavam a parte da frente da bateria. Na
lateral, algumas escolas colocavam caixas e taróis. Hoje, não é muito comum
ver esses dois instrumentos nas laterais. Para o julgador, se visualmente os
instrumentos estivessem bem distribuídos, obedecendo a estas pequenas
regrinhas, a escola pontuava bem.
O subquesito Movimentação
julgava o deslocamento da bateria durante todo o desfile, incluindo a entrada
e a saída do recuo. Quando a saída ou a entrada no recuo era confusa, a escola
perdia pontos. Observava ainda a movimentação do conjunto da bateria.
O subquesito Uniformidade
julgava a fantasia da bateria no que diz respeito a falta, avaria ou excesso
de alguma parte. Todas as fantasias da bateria deveriam estar rigorosamente
iguais, dos pés à cabeça. Mas o julgador, como hoje, não podia julgar sua
beleza ou adequação ao enredo.
E o último subquesito, Postura,
julgava o comportamento dos ritmistas durante o desfile. Se faziam sinais ou
gestos inconvenientes, se se portavam com desleixo, desrespeito ou de forma
estranha. Talvez a presença visível de ritmistas excessivamente embriagados
fosse o principal alvo dos julgadores.
No julgamento atual, o conteúdo
de alguns desses subquesitos ainda é observado, mas eles não possuem mais a
força de pontuação separada.