Ensaio Técnico (Janeiro / 2006)
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Sábado, 21 de janeiro de 2006, rumo ao carnaval, segundo ensaio técnico da Portela no Sambódromo, noite de lua minguante. Pode-se dizer que não houve pouco samba, pouca alegria ou pouco sentimento. Talvez, até a lua soubesse que a maior atração daquela noite de samba seria a escola de samba de Oswaldo Cruz e Madureira. |
Ainda na concentração, já era possível constatar a disposição dos portelenses. Pairava no ar um clima de alegria. O trabalho de organização da escola, nos momentos que antecederam o desfile-ensaio, quando comparado com o primeiro ensaio técnico, no final de 2005, foi realizado de forma pouco mais eficiente. Um número maior de diretores parecia estar envolvido na organização dos desfilantes. Para facilitar a vida dos componentes, especialmente aqueles de primeira viagem, a diretoria dispôs placas indicativas da localização de cada uma das alas e dos setores do enredo. Entretanto, é importante mencionar que o trabalho de organização da escola na avenida poderia ter sido iniciado com maior antecedência, sem correrias desnecessárias, dispensáveis no dia do desfile oficial.
Ainda no esquenta, ao som de “Portela na Avenida”, os versos “Salve o samba, salve a santa, salve ela/Salve o manto azul e branco da Portela” eram cantados com tamanha euforia, que um desavisado poderia pensar que, naquele palco, estaria se apresentando a escola de samba campeã do ano anterior. Não importa. Estava ali a escola 21 vezes campeã do carnaval. Seria necessária alguma outra credencial? Mas o melhor ainda estava por vir. |
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Em noite inspiradíssima, mostrando uma comunicação com o público que, atualmente, poucos intérpretes conseguem estabelecer, Gilsinho iniciou a apresentação do samba-enredo de 2006. Ainda que o samba seja apontado como um dos melhores da safra de 2006, ainda que o próprio Gilsinho o tenha cantado de forma um pouco acelerada nas primeiras passadas, o samba teve uma repercussão ainda mais surpreendente. Uma falha de poucos minutos no carro de som mostrou que o canto da escola estava afiado e que o samba de Mauro Diniz, Ary do Cavaco, Júnior Scafura, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Naldo continua crescendo.
Talvez, esse misto de euforia por parte dos desfilantes e da platéia que cantava e acompanhava os refrões com palmas, além do grande contingente que ensaiava, sem o devido suporte do som, já que apenas o carro de som acompanha as escolas em seus ensaios, tenha facilitado o atravessamento do canto em alguns poucos momentos. É verdade que algumas alas ainda podem melhorar o canto e podem dançar com mais desenvoltura, mas, de uma forma geral, não houve maiores comprometimentos na harmonia da escola, transformando este quesito em um dos pontos altos do ensaio. Outro ponto positivo foi a performance da bateria, comandada pelo Mestre Nilo. Durante todo o ensaio, a bateria manteve a sua cadência e o seu ritmo, dando um tempero ainda melhor ao samba.
O ensaio deixou estampado que dois pontos merecem um maior investimento por parte da direção da escola. A performance de Diego e Andrea Machado, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, poderia ter sido bem melhor. Desfilando no início da escola, sua provável posição no dia do desfile oficial, o casal ainda não atingiu o nível de entrosamento necessário para conquistar as notas dez. Neste período pré-carnavalesco, é importante que o casal mantenha o bom relacionamento e que procure realizar outros ensaios na pista de desfile do Sambódromo. Outro aspecto que necessita de atenção e que, nos últimos anos, tem sido inexplicavelmente alvo de erros é o recuo da bateria. A direção de harmonia da escola precisa entender que, nesse momento, três são os movimentos básicos: segurar a cabeça da escola, realizar o recuo da bateria e agilizar a movimentação das alas posicionadas atrás da bateria, para o correto preenchimento, em menor tempo possível, do espaço formado (que espera-se seja o menor possível). Nesse sentido, é indispensável que seja estabelecida uma boa estratégia de comunicação entre os diretores da escola, evitando, ao máximo, a interposição de integrantes da escola que não possuem como função o comando da harmonia.
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Apesar de alguns erros, não existem dúvidas de que o bom samba esteve presente, de que uma verdadeira escola de samba se apresentou na Marquês de Sapucaí. Personagens importantes da escola também apareceram. Monarco, Dodô, Surica, Áurea Maria e Waldir 59, entre outros, estavam lá. A vibração dos componentes foi muito grande, a bateria deu o seu show, alas se confraternizaram no final do ensaio e o público, que lotava o Sambódromo, parecia extasiado, respeitando e reconhecendo que a Portela acabara de fazer um grande espetáculo. |
Agora, é importante continuar os preparativos para que o carnaval portelense de 2006 seja bem diferente do último carnaval. E que no dia 04 de fevereiro de 2006, data do nosso próximo ensaio técnico na Sapucaí, a escola já tenha aparado as arestas restantes.
Depois de um bom ensaio, fica difícil não parafrasear os autores do samba-enredo portelense. A história da Portela, de tanta beleza e riqueza, refletiu em uma escola singular. E o melhor de tudo: as sementes plantadas ao longo desses 82 anos de história continuam dando frutos. Alguém duvida disso?
Equipe Portel@aweb – Janeiro/ 2006
Texto: Marcello Peçanha
Fotos: Diego Mendes