G. R. C. E. S. M. FILHOS DA ÁGUIA

 

ENREDO: UM SONHO DE NATAL

TEXTO E DESENVOLVIMENTO: JOSÉ LEONÍDIO PEREIRA

   REGINA CELI RIBEIRO PEREIRA

FIGURINOS: UBIRATAM DE ASSIS

 

O CENTENÁRIO DE NATAL

 

              No ano do seu centenário lembramos seu nome, uma legenda, um mito.

              Foi a maior figura do mundo do samba, recebido e respeitado por todos. Era considerado um patrimônio da cidade.              

 

EDITORIAL

 

              O som do surdo ecoava dentro de mim como se fosse um acalanto. Aos poucos fui adormecendo e no meu sonho uma estrela cadente riscou no céu uma estrada azul e branca, e do infinito, batendo as asas, aproximou-se de mim a grande águia, símbolo da minha querida Portela. Pousou do meu lado e me olhou com tanto carinho, que entendi que me convidava a voar mais alto, até onde nunca ninguém tinha ido, a visitar a morada daquelas luzes que cruzavam os céus, como se comemorassem conosco nossas alegrias.

 

Acomodei-me no seu dorso, e começou a voar subindo cada vez mais alto, e comecei a ver a terra ficando mais longe e num momento percebi que era azul e envolta em nuvens brancas. Lágrimas brotaram nos meus olhos porque ali eu via as cores que sempre marcaram a minha vida, da Portela. Fechei os olhos e a vi desfilando a minha frente, o povo delirando, e relembrei quantos carnavais haviam se passado, como éramos uma família que se orgulhava de suas origens, desde os tempos da "Baianinhas de Oswaldo cruz" do Paulo da Portela, Rufino, Caetano e do Heitor dos Prazeres, e também do "Quem Fala de Nós Come Mosca" da Dona Esther e suas crianças. Daí nos juntamos e surgiu o "Vai Como Pode" e, daí, a Portela.

 

Nasci embalado pelo samba, cresci dentro do samba, vendo suas figuras imperiais, seus pajens, suas damas, cada uma mais linda do que a outra. Como era difícil correr de canto em canto, de esquina em esquina, para crescer na vida. Porém, enchia-me de certeza de um dia realizar os meus sonhos.

 

Como eram lindas as histórias das florestas, dos pássaros, dos deuses, do Saci-Pererê pulando numa perna só e fumando seu cachimbo. Como eram alegres as tardes de domingo com as crianças se divertindo com os palhaços nos circos. Nossos sonhos transformavam-se em esperanças todas as manhãs na forma de animais idealizados pelo Barão de Drumond, onde a águia era a primeira a voar mais alto. Para decifrá-los, passávamos pela singeleza das borboletas, a ligeireza dos gatos, as travessuras dos macacos e a ternura representada pelo leite das vaquinhas Mococa.

 

A alegria das manhãs ao ver na correria das crianças com seus uniformes indo para as escolas a certeza de um futuro mais justo. Crianças orgulhando-se de suas origens índia, negra, branca, cigana. Não importa! Aqui eram todas as crianças brasileiras, cariocas da gema, de Osvaldo Cruz e Madureira, do berço do samba. Ali estavam os continuadores das nossas tradições, crianças nascidas e criadas na cultura nativa, popular, brasileiras por essência, tendo como raiz o samba. Era assim que eu via as crianças. Cada passo em direção à escola era como um gingado, um requebro, preparando o futuro do samba. Nas horas livres, as crianças  abraçavam o céu, com suas pipas coloridas bailando ao ritmo do samba que vem da bateria da Portela. Esta é a semente saída da mais profunda raiz das nossas origens.

 

No meio de todo esse bailado, é tarde, é Domingo. Os fogos espocam no ar, meu coração dispára. É gol no Maracanã. É meu Fluminense que para minha alegria é campeão. Quando abri os olhos, a terra era um ponto brilhante no infinito e a Águia pousou de onde todas as estrelas cadentes se originam. Dela saltei, estava na Constelação de Leão e lembrei-me dos versos do samba-enredo do último carnaval de minha Portela, e de Macunaíma cantando:

 

Vou-me embora

Vou-me embora

Eu aqui volto mais não

Vou morar no infinito

E virar constelação.

Aqui eu continuo a sonhar com a minha escola engalanada, com as crianças aprendendo a voar alto como os "Filhos da Águia" e, neste mundo estrelado, na Constelação de Leão, eu estou. E toda vez que um portelense vir uma estrela cadente, tenha certeza, sou eu, "Natal", quem está brincando com as cadentes, iluminando do céu, a estrada da Portela.

 

"Vida longa aos Filhos da Águia"

NATALINO JOSÉ DO NASCIMENTO "NATAL"

 

"Todo o menino de rua tem em seus sonhos ser um mito também"

FILHOS DA ÁGUIA