Hist�rico - parte I

A Semente

 

Criada em 1644, a antiga freguesia de Iraj� se estendia por uma vasta regi�o ocupada por fazendas que eram o celeiro da col�nia e posteriormente da corte. Esta imensa �rea, ao longo dos s�culos XVIII e XIX, chegou a ter 13 engenhos de a��car produtivos e importantes economicamente.

Esta��o de Oswaldo Cruz: Refer�ncia para o bairro.

Entre eles, talvez o mais pr�spero, merece destaque o engenho do Portela, cujos escravos, no labor do dia-a-dia, contribuiriam para engrandecer a regi�o que se estendia da fazenda do Campinho at� o Rio das Pedras, e que mais tarde herdaria o nome do boiadeiro e mercador mais famoso da localidade: Louren�o Madureira.

Em fins do s�culo XIX e in�cio do s�culo XX, a economia da regi�o, amparada principalmente na for�a do trabalho escravo, entra em uma inevit�vel  crise. Os  antigos  latif�ndios  s�o  aos poucos repartidos por pessoas pobres que fugiam das reformas urbanas que ocorriam no centro da capital da jovem Rep�blica Brasileira. O trem, chegado em 1890, trazia diariamente um grande contingente de pessoas desprovidas de qualquer bem material para os j� conhecidos sub�rbios. Especialmente, merece destaque para n�s a brava popula��o que, enfrentando todos os tipos de dificuldades, ocupou a regi�o pr�xima ao Rio das Pedras atrav�s da antiga esta��o de Dona Clara. Mais tarde, a ainda jovem localidade, que herdou o nome do Rio vizinho, receberia o definitivo nome de Oswaldo Cruz, em homenagem ao famoso sanitarista falecido em 1917.

Desta forma, fugidos e perseguidos, como infelizmente � h�bito em nossa hist�ria, os negros trouxeram sua m�sica, sua dan�a, sua religi�o e sua inigual�vel forma de enfrentar a dor atrav�s da arte para a "ro�a". Foram estes negros, muitos deles vindos de outras partes do Brasil, sobretudo de Minas Gerais e do antigo Estado do Rio, que plantaram a semente da batucada nas festas da regi�o. O cavalo torna-se o principal meio de transporte. Imensos val�es dificultavam a passagem dos moradores. N�o havia �gua, luz ou qualquer tipo de conforto j� comum nos bairros mais abonados da cidade. O antigo engenho cedeu espa�o e nome para a principal via da regi�o: a estrada do Portela.

Contudo, se o cen�rio encontrado no novo bairro era hostil, hostilidades maiores aqueles negros - ex-escravos e seus filhos - j� tinham enfrentado em suas vidas de dor e sofrimento. Se a senzala e o banzo eram enfrentados com canto e dan�a, formas de manter vivas as tradi��es herdadas de seus ancestrais na m�e �frica, as dificuldades no novo ambiente n�o receberiam tratamento diferente. A humilha��o e o aviltamento que os negros exclu�dos e esquecidos pela sociedade racista e desumana sentiam eram combatidos em forma de arte, m�sica e express�es de uma cultura que insistia em se auto-afirmar apesar de tudo. Assim, como num passe de m�gica, surgem as belas poesias dos primeiros sambistas de Oswaldo Cruz.

Os primeiros portelenses foram verdadeiros alquimistas. Magos capazes de transformar dor em arte, e sofrimento em notas musicais. A dificuldade, em suma, foi a mat�ria-prima das primeiras composi��es da Portela.

Como � caracter�stico de toda comunidade carente, o corpo social amenizava as dificuldades e compensava a falta de op��o de lazer no bairro. Oswaldo Cruz torna-se um lugar onde as rela��es humanas s�o sinceras. Onde a amizade de fato existia. Quase uma imensa fam�lia, pois os muitos problemas quotidianos eram por todos compartilhados.

Pra�a Paulo da Portela - Oswaldo Cruz 

 

Esta integra��o foi fundamental para a hist�ria da Portela, pois possibilitou uma vida social marcada por festas religiosas, batucadas e jongo, manifesta��o cultural herdada dos antepassados escravos.

 

 

O jongo, como express�o tipicamente rural, encontrou na regi�o de Madureira e Oswaldo Cruz, afastadas do centro da cidade, um campo f�rtil para a preserva��o quase intacta de sua forma mais pura e original.

Segundo Ant�nio Caetano, o primeiro bloco surgido em Oswaldo Cruz foi fundado por Paulo da Portela e se chamava "Ouro sobre azul". N�o era um bloco de samba, e sim de marcha-rancho. O samba s� chega a Oswaldo Cruz atrav�s das festas religiosas na casa de "seu" Napole�o Jos� do Nascimento, pai do lend�rio Natal, que contava com a presen�a de Dona Benedita, velha senhora que vinha do Est�cio acompanhada de Brancura, Baiaco, Ismael Silva e outros bambas que estavam desenvolvendo este ritmo no morro de S�o Carlos. Atrav�s deste interc�mbio, o samba chega finalmente � "ro�a". Assim, n�o demorou muito para Oswaldo Cruz se tornar um dos mais importantes redutos do novo ritmo carioca.

Muito importante tamb�m para a hist�ria do que viria a ser a Portela foi a vinda de D. Esther para o bairro. Festeira e j� acostumada a brincar o Carnaval, a casa desta senhora logo se tornaria o centro da vida social do bairro. Pelo quintal de D. Esther passaram alguns dos maiores nomes da nossa m�sica: Donga, Pixinguinha, Roberto Silva. Outros, como Candeia, tiveram os primeiros contatos com o ritmo que os tornariam famosos nas animadas reuni�es da rua Adelaide Badaj�s (foto).

Rua Adelaide Badaj�s - nesta rua, hoje pacata,

passaram grandes nomes da m�sica brasileira

Segundo o pr�prio Candeia, em seu livro "Escola de samba, a �rvore que esqueceu a raiz", a figura de Dona Esther sempre esteve cercada de admira��o e mist�rio. Muitos acreditavam que esta senhora era dotada de poderes m�gicos.

 

 

 

Verdade ou n�o, o importante � que dona Esther fundou um bloco muito famoso na regi�o: o "Quem fala de n�s come mosca", um dos principais embri�es da Portela.

 


 

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