Carnaval também desfila na internet
Simpósio reúne sambistas-internautas
A idéia e a iniciativa para a realização do encontro partiram do pesquisador Felipe Ferreira, professor de Cultura popular na Uerj e autor de obras como O marquês e o jegue: estudo da fantasia para escolas de samba, de 1999, e O livro de ouro do carnaval brasileiro, de 2004. Felipe convidou, para compor as mesas de debates, web-designers, historiadores, repórteres que são setoristas de carnaval, seja na mídia impressa ou na rede, e demais apaixonados por samba. O simpósio comemorou ainda os sete anos de criação da primeira lista de discussão sobre escolas de samba na internet, a Rio-Carnaval.
Muitos dos que mantêm páginas virtuais sobre samba reclamaram de falta de patrocínio. A palavra chave foi o ''amor'' ao que fazem. É o que, no fim das contas, parece impulsionar profissionais de outras áreas, como oficiais de Marinha, engenheiros e professores de química, nesta cruzada: a maioria atualiza as informações de suas páginas nos fins de semana ou madrugada adentro. Mesmo assim, já existem sites como o Sambanet, que conseguiram se profissionalizar e até distribuem prêmios - reais, não virtuais - às escolas de samba - reais, não virtuais.
Marcaram presença no encontro entusiastas do carnaval, como Eduardo Pinto, responsável pelo site do Salgueiro, Walkir Fernandes, criador da lista Monarcas do samba, e Rogério Rodrigues, da home-page não oficial da Portela, que foi desprezada pela diretoria da escola após ter sido acusada, segundo ele injustamente, de veicular fotos pornográficas no endereço.
Na platéia havia carnavalescos da vida real, como Mauro Quintaes, que ano que vem assina o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, e carnavalescos da internet, como Fábio Reis, que também acumula funções de presidente, figurinista e faz-tudo no Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Estrela de São Fidélis. No último carnaval ele ficou em sétimo e não gostou, diz que houve armação. Afinal, também no mundo virtual julgadores se enganam e dão notas polêmicas.
Ricardo Delezcluze, que não é bicheiro mas foi eleito vice-presidente desta liga internética, convocou todos os presentes a se conectarem na noite do próximo sábado, quando desfila o Grupo Especial, e provocou risos gerais ao anunciar que um carnavalesco-nerd preparou alegorias de gente, utilizando-se do elemento humano para compor os carros, ao melhor estilo da Unidos da Tijuca, e já está sendo chamado de ''Paulo Barros Virtual'', uma referência ao carnavalesco da escola azul-e-amarelo tijucana, que conquistou dois vices de 2004 para cá, tornando-se a revelação entre os colegas. Por sua vez, Felipe Ferreira, idealizador do encontro e pioneiro no uso de novas mídias, saiu da Uerj aclamado, com a alcunha de ''Ismael Silva Cibernético''. Carnaval é isso mesmo: novos suportes, velhas fantasias.