O Pagode de 2004
Na quarta-feira houve ensaio no Portel�o. Quinta-feira � dia de trabalho e, na volta, no �nibus, voltando pra casa �s 4:30h da manh�, duas mulheres conversavam. Elas estavam indo para o trabalho e eu... bom, o dia terminava pra mim e come�ava para elas. Apesar das diferen�as nas circunst�ncias, t�nhamos uma mesma ansiedade, uma mesma expectativa. Elas torciam para que o dia passasse r�pido porque era o Dia do Trem. Uma delas s� lamentou uma coisa: de ser quinta e n�o sexta-feira. Para mim, foi jogo ser na quinta. Calhou de ser num dia de curso � tarde.
Havia muita gente na Central, al�m do movimento di�rio normal. O Dia do Trem leva muita gente at� a Central nos segundos de dezembro. Pessoas que religiosamente anotam o dia nas suas agendas afetivas e pessoas que s�o pegas de surpresa. Pessoas que passavam voadas e avoadas por ali e que agora s� t�m ouvidos para o jongo do Wilson Moreira. Bem que queriam tamb�m versar em desafio com o Xang� da Mangueira ou saber sambar como aquela baiana antiga da Portela. Porque cada um canta e samba como pode e como sabe. S� n�o pode perder a hora de pegar o trem rumo a Oswaldo Cruz.
Eu sempre prefiro ir na composi��o derradeira, para poder assistir a quase todo o show da Central. Fui num vag�o em que n�o havia nem cavaquinho nem pandeiro, mas havia palmas e vozes e gente. Para que mais quando se quer comemorar? Cantava-se de tudo. Chegando � Oswaldo Cruz, muita gente esperava na esta��o e nas ruas pr�ximas. No lado da Rua Jo�o Vicente, no palco �Candeia� (o palco levou esse nome porque ficava cerca de 50 metros de onde nasceu esse compositor portelense), cantaram N�lson Sargento, Walter Alfaiate e outros. No outro lado da linha, na Rua �tila da Silveira � foi nessa rua, num circo, que Paulo da Portela se apresentou em p�blico pela �ltima vez -, tamb�m havia um palco onde sambistas se apresentaram. J� no palco da Pra�a Paulo da Portela aconteceu um encontro de gera��es. Nele, apresentou-se a escola de samba mirim Filhos da �guia e as Velhas Guardas da Portela, Mangueira, Imp�rio Serrano e Salgueiro.
No Dia do Trem, divers�o � a palavra de ordem. Mas h� espa�o tamb�m para reflex�o: a import�ncia do dia, a luta e resist�ncia dos pioneiros, a massa reunida sem confus�o. Na minha volta para casa, vi a mesma mulher do dia anterior. J� vestindo o uniforme de trabalho, ela ajudava uma outra mais velha, provavelmente sua m�e, a p�r a barraquinha de doces para dentro de casa. Depois disso, saiu pra luta. Mas agora ela parecia mais feliz. Tinha mesmo um ar mais leve naquele rosto. Acho que j� pensava na sexta-feira do ano que vem. O Dia do Trem ser� dela.