Para o ano
A Portela decidiu abordar a época
Getúlio foi o pai dos pobres. Responsável pela implantação da CLT, deixou o poder que exercia de modo autoritário, mas anos depois voltaria nos braços do povo, para cumprir mais um mandato, destacando-se pelas medidas nacionalistas.
Em vez de apenas uma Águia, a Portela abria seu desfile trazendo cinco Águias. Eram as Águias do Palácio do Catete, o Palácio das Águias, que vinha após Paulinho da Viola e a comissão de frente, que também representava a ave símbolo da liberdade e da Portela. A escola foi a última a se apresentar no domingo de carnaval, mas o público se manteve fiel e mais uma vez recebeu calorosamente a agremiação.
O início do desfile mostrava as condições políticas e sociais do Brasil antes de Vargas tomar o poder. Era a epóca da chamada polítca do café-com-leite, alternância de poder entre os políticos paulistas e mineiros, que o gaúcho Vargas precisou vencer para assumir a presidência. O segundo carro da escola mostrava de maneira bastante inteligente essa realidade política do Brasil, tendo à frente um Vargas jovem, montado a cavalo.
A saga dos pracinhas brasileiros nos campos de batalha da Itália estava representada na fantasia da bateria, que tinha à frente o casal de mestre-sala e porta-bandeira Marcelinho e Daiane. O verde e o amarelo dividiam espaço com o tradicional azul-e-branco da Portela. A atriz Taís Araújo, representando Carmem Miranda, fazia os trejeitos típicos da Pequena Notável durante a apresentação.
Um carro representava os horrores da tortura, mostrando que, como dizia a letra do samba, Getúlio foi "amado", mas também foi "odiado". Os compositores foram os irmãos Ailton e Amilton Damião, Edynel e Zezé do Pandeiro, todos da cidade mineira de Juiz de Fora. O intérprete oficial era Gera, que após uma vitoriosa carreira na Unidos de Vila Isabel estreava na azul-e-branco de Oswaldo Cruz e Madureira.
Lembrando a época de ouro da vida social brasileira, um carro representava o cassino. No alto, como destaque, a vedete Virgínia Lane, que teve um caso amoroso com o presidente Getúlio Vargas.
Nas escadarias, elegantemente trajada, a velha guarda marcava presença. João Nogueira, o portelense João Nogueira, estava ao lado da velha guarda. Era seu último desfile por sua escola de coração.
No fim, uma gigantesca escultura de Getúlio segurava sua carta-testamento. Terminava a Era Vargas e o desfile da Portela. Getúlio saía da vida para entrar na história, e a Portela deixava a avenida para aguardar a apuração.
Na quarta-feira, o resultado não foi o esperado pelos portelenses. A escola ficou com a 10ª colocação.
Ficha técnica:
Resultado: 10ª Colocada do Grupo Especial, com 276 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 7ª Escola de 05/03/00, Domingo, Av. Marquês de Sapucaí (Passarela do Samba)
Carnavalesco: José Félix
Presidente: Carlos Teixeira Martins
Diretor de Carnaval: Paulo Miranda
Diretor de Harmonia: Arlete Cordeiro
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Marcelinho e Daiane
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
Bateria: Mestre Mug da Portela
Contigente:
Samba enredo:
autores: Zezé do Pandeiro, Amilton Damião, Ailton Damião, Edynel e Edinho Leal
O raiar de um novo dia
Desafia meu pensar
Voltando à época de ouro
Vejo a luz de um tesouro
A Portela despontar (lálalaiá)
Aclamado pelo povo, o Estado Novo
Getúlio Vargas anunciou
A despeito da censura
Não existe mal sem cura
Viva o trabalhador ôôô
Nossa indústria cresceu (e lá vou eu...)
Jorrou petróleo a valer...
No carnaval de Orfeu
Cassinos e MPB
O Rei da Noite, o teatro, a fantasia
No rádio as rainhas, a baiana de além-mar
Tantas vedetes, cadilacs, brilhantina
Em outro palco o movimento popular
E no Palácio das Águias
Ecoou um grito a mais
Vai à luta meu Brasil
Pela soberana paz
Quem foi amado e odiado na memória
Saiu da vida para entrar na história
Meu Brasil-menino
Foi pintado em aquarela
Fez do meu destino
O destino da Portela
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