Portela 1973 : "Pasárgada, o amigo do Rei"
Para comemorar meio século de existência, a Portela resolveu contar na avenida o poema "Vou-me embora pra Pasárgada", do falecido poeta Manuel Bandeira, fazendo uma alusão a sua própria história.
Manuel Bandeira, autor do poema "Vou-me embora pra Pasárgada", que inspirou o enredo de 1973 da Portela |
Chovia muito no centro do Rio de Janeiro, mas o público se manteve fiel e aguardou ansioso pela entrada da Portela. O velho Natal, sempre acompanhado pelo médico, comandava a apresentação da escola, que tinha Clara Nunes e Zé Kétti como mestres-de-cerimônia.
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O departamento cultural da Portela, sob liderança do médico e pesquisador Hiram Araújo, contou com uma verba de 1 milhão de cruzeiros para apresentar a obra do imortal Manuel Bandeira, e o fez dividindo o enredo em três quadros:
1º Quadro: O mundo infantil - Com 300 crianças brincando de carrossel, roda-gigante, escorrega e tudo que um bom parque de diversões possui.
2º Quadro: A
transição - Representando o mundo adulto do poeta, de sua juventude no Recife
e
prolongando-se até São Paulo, reconstituindo as obras e as cidades de seu
tempo.
3º Quadro: O reino de pasárgada - Poesias e sonhos, cheio de flores e pássaros como o poeta sonhou.
O samba de David Correa, o primeiro vencido por este grande compositor, conseguia, de uma maneira bastante feliz, unir a história cinqüentenária da Portela ao poema de Manuel Bandeira. À frente da Águia, símbolo máximo da escola, um grupo de 15 mulatas abria o desfile da Portela. Ainda nesse primeiro setor, Vilma Nascimento e Benício personificavam a Rainha e o Rei de Pasárgada, abrindo alas para os 3.000 componentes que a Portela levou para a Avenida Presidente Vargas.
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Mulatas da Portela - 1973 |
Dos carros que a Portela apresentou, um parque de diversões rodeado de crianças foi o que mais sucesso fez junto ao público. Também chamaram atenção uma sereia rodeada de peixes e objetos do mar e um carro que representava um arco-íris.
As três partes do enredo estavam divididas por portões. A escola contava ainda com o auxílio de adereços, alegorias de mão, estandartes e bastões. Tudo para facilitar a leitura do enredo pelo público e pelos jurados. No final, 50 velinhas faziam referência ao jubileu da Portela.
Contando com a participação de grandes artistas da música e importantes nomes do esporte brasileiro, destacava-se a presença da socialite Odile Rubirosa, o que provocou imediatos protestos daqueles que se posicionavam contrários às transformações por que o samba estava passando.
Apesar da beleza do enredo e da emoção pelos 50 anos de sua fundação, o resultado não foi o esperado por todos. A bateria, com sérios problemas, talvez prejudicada pela chuva que insistia em cair durante a apresentação da escola, atravessou durante o desfile, comprometendo a evolução e a harmonia da Portela.
A Portela ficou com a 4ª
colocação, obtendo um total de 53 pontos:
Notas obtidas pela Portela no carnaval de 1973:
Alegorias 5
Bateria 5
Comissão de Frente 5
Concentração 5
Cronometragem 5
Enredo 5
Evolução e Conjunto 3
Fantasias 4
Harmonia 3
Letra do Samba de Enredo 5
Melodia 3
Mestre-Sala e Porta-Bandeira 5
Portela 1973 Enredo: Pasárgada, O Amigo do Rei Compositor: David Correa Ao embarcar na ilusão Senti palpitar meu coração Na passarela um reino surgia Quanta alegria Desembarquei feliz Tudo era fascinante Nesse mundo pequenino Até relembrei os dias Do meu tempo de menino Nas brincadeiras de roda Rodei pelo mundo afora Neste reino azul Tem tudo que desejei Auê, auê, auê eu sei Eu sei que sou o amigo do rei Nas ondas do mar caminhei No azul do céu eu voei Lá vem ela na avenida Cinqüentenária tão florida Portela, ô Portela ! Na vida és a Pasárgada mais bela
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VOU-ME EMBORA PRA
PASÁRGADA Poema de Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro bravo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito à beira do rio Mando chamar a mãe-d'água. Pra me contar histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóides à vontade Tem prostitutas bonitas Pra gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar Lá sou amigo do rei Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. |
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Equipe Portela Web - 2001
Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão
Revisão ortográfica: Fabrício Soares