Wallace Menezes
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Alegoria 3 e ala Mocotó
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Comentários Gerais:
A Portela foi a escola que mais melhorou ao se compararem os anos de 2007 e 2008, perdendo este ano dois pontos menos do que perdera ano passado. Como resultado, a Portela subiu do 8º para o 4º lugar. Comparando com o carnaval anterior, houve melhorias de rendimento em cinco dos dez quesitos (harmonia, enredo, bateria, alegorias e conjunto); igual rendimento em outros três (samba, mestre-sala/porta-bandeira e fantasias); e piora em evolução e comissão de frente.
Consideramos ótimo o trabalho realizado, destacando, inclusive, um avanço em termos de planejamento de barracão. Ao contrário do que ocorreu em 2005, 2006 e 2007 a Portela conseguiu, em 2008, finalizar os seus trabalhos de barracão sem correrias e atrasos desnecessários. Neste momento, pensamos que é fundamental que a escola não apenas se empenhe em manter a regularidade nos próximos anos, como também deve se reforçar no sentido de brigar pelo campeonato já no ano de 2009, o que acreditamos ser perfeitamente possível.
Abaixo, segue quadro resumo dos pontos perdidos quesito a quesito, num comparativo 2008 x 2007.
PORTELA - Pontos Perdidos
Quesito Ano Comparação
2008 2007
Samba-enredo 0 0 =
Harmonia 0,6 1,2 +
Enredo 0 0,5 +
Mestre-sala e Porta-bandeira 0,5 0,5 =
Fantasias 0,7 0,7 =
Evolução 0,2 0,1 -
Bateria 0,2 0,3 +
Alegorias e Adereços 0,2 1,4 +
Conjunto 0,2 0,4 +
Comissão de Frente 0,6 0,1 -
TOTAL 3,2 5,2 +
Com essa pontuação – 396,8 –, a Portela teria sido a 6ª colocada em 2006 e em 2007. O padrão de notas dos três últimos carnavais foi o seguinte:
Colocação Pontos Obtidos
2008 2007 2006
Campeã 399,3 399,3 397,6
2ª colocada 398 397,9 397,6
3ª colocada 396,9 397,4 397,2
4ª colocada 396,8 397,3 397,1
5ª colocada 396,5 397,3 397,1
6ª colocada 396,5 396,6 396,7
Em 2008, entre a 3ª e a 6ª colocadas, houve apenas 4 décimos de diferença. Esse equilíbrio tem sido uma tendência nos três últimos desfiles. Percebe-se, pelo quadro, que uma pontuação em torno de 397,5 pontos garante a escola entre as 3 primeiras colocadas. Para isso, é fundamental a Portela reforçar o seu time para 2009.
Quesito a Quesito:
Sobre os quesitos, fazemos as seguintes avaliações:
1. Samba-enredo: manteve o mesmo sucesso de 2007 em relação às notas. Foi muito prejudicado pelo enredo, mas, felizmente, não comprometeu. Entretanto, é conveniente destacar que a escolha de um samba-enredo não deve considerar apenas a opção repetida por um modelo de samba que aparentemente vem auxiliando a escola em seu desfile. É fundamental a escolha de um samba de qualidade que esteja em acordo com as preferências dos principais setores da escola.
2. Harmonia: Embora as notas tenham sido melhores, não acreditamos em avanço em 2008. Achamos, inclusive, que a escola teve um desempenho superior em 2007, talvez pelo fato de o samba ter sido melhor. Esta melhora em 06 décimos, na verdade, é conseqüência de um jurado equivocado em 2007. Isto, aliás, revela um problema neste tipo de análise numérica, pois as pontuações gerais podem esconder as distorções provenientes das subjetividades individuais. Vejamos o desempenho da Portela em harmonia nos três últimos anos:
Em 2006: 10 - 10 - 10 - 10
Em 2007: 9,7 - 10 - 10 - 9,1
Em 2008: 10 - 9,5 - 9,9 – 10
Portanto, não parece que a Portela tenha evoluído neste quesito. Entretanto, acreditamos que o trabalho que já é feito em harmonia é mais do que suficiente. Nitidamente, a harmonia está sendo prejudicada pela ausência de um padrão de desfile uniforme, com correrias desnecessárias nos dois últimos anos, o que atrapalha o canto e a dança dos componentes (isso está na justificativa dos jurados). É por isso que as notas de 2006 nos quesitos de chão são as melhores. Naquele ano, a Portela fez seu melhor desfile em termos de chão, sem correrias desnecessárias, e a escola pôde cantar.
3. Enredo: Houve melhora significativa e importante, resultado, sobretudo, do cuidado com a defesa e com o material entregue a LIESA e jurados; trabalho que deve ser mantido nos próximos anos. Entretanto, o enredo de 2008 era pouco criativo, continha partes desnecessárias. Provavelmente, as quatro notas dez obtidas resultaram muito mais da excelente defesa do enredo, que conseguiu estabelecer uma ligação razoavelmente coerente entre o que foi entregue aos jurados e o que foi apresentado na avenida, do que propriamente da criatividade e da objetividade necessárias para garantir notas máximas. Tão importante como o cuidado com a defesa do enredo é fazer a opção pela escolha de um grande enredo que, dentro do possível, tenha a cara da escola e seja mais “cultural”.
4. Mestre-sala e Porta-bandeira: Os mesmos 05 décimos perdidos. Não é uma boa nota para quem pretende disputar títulos. Este ano, eles foram prejudicados pela roupa, pela confusa concentração e pela direção de harmonia. A Portela necessita de um casal de mestre-sala e porta-bandeira experiente; mas, também, deve dar condições de trabalho melhores.
5. Fantasias: A nota igual também não condiz com a realidade. As fantasias de 2008 estavam bem melhores, especialmente no que se refere à criatividade do seu conjunto, quando comparadas com as de 2005, 2006 e 2007. Entretanto, não estavam perfeitas. Primeiro, porque algumas eram muito iguais entre si quanto à forma, às cores e às soluções encontradas, tornando, por vezes, o conjunto repetitivo em um mesmo setor do enredo (por que tantas fantasias com varetas?). Embora o carnavalesco Cahe Rodrigues e sua equipe inegavelmente tenham méritos neste desfile, é fundamental a escolha de um carnavalesco de competência reconhecida, com grandes trabalhos em seu currículo e que seja capaz de aliar o tradicionalismo da Portela à modernidade tão exigida no espetáculo atual. Ademais, maior atenção deve ser dada à questão da reprodução das fantasias. Muitas não obedeceram aos protótipos. É preciso um controle mais apurado nessa parte. A nota 9,4 em fantasias, concedida à Portela por um dos jurados, foi exageradamente baixa, mas, conforme mencionado acima, a escola apresentou falhas neste quesito.
6. Evolução: Primeiro quesito em que a Portela regrediu em relação ao carnaval de 2007. Em primeiro lugar, a escola tem que aprender que evolução é um dos pilares para um bom desfile. Não é necessária qualquer jogada de marketing, ao se mencionar a utilização de GPS, para acertar num perfeito andamento de desfile. Nos dois últimos anos, a Portela manteve o seguinte padrão de desfile: seguiu o ritmo da comissão de frente (um bom ritmo, é necessário destacar) e, quando esta deixou a pista, começava uma espécie de correria rumo à Praça da Apoteose. Por dois anos seguidos, a Portela correu desnecessariamente, comprometendo quesitos como a bateria, que não teve tempo de se apresentar para dois módulos de jurados, no intuito de “tapar buracos”. Neste ano de 2008, a situação foi ainda pior quando comparada a 2007: dois carros entraram com dificuldades na avenida sem que houvesse um trabalho efetivo para segurar a escola apenas o tempo suficiente para que tais problemas fossem resolvidos. A equipe de harmonia até demonstrou alguma preocupação ao segurar a escola em alguns momentos, mas, por outro lado, fez com que componentes corressem desnecessariamente em outros momentos, a exemplo da velha guarda, que correu em frente a todo o primeiro setor de arquibancadas. Pode-se também observar na gravação da Rede Globo de Televisão que a bateria deixa o segundo recuo com 1h 06min. Isso indica que:
- a escola desperdiçou, no mínimo, 10 minutos de desfile, levando em consideração o tempo normal de desfile da bateria até o fim;
- o último carro foi do setor 01 à Praça da Apoteose em 10 minutos;
- se a bateria tivesse saído com 1:13, por exemplo, a escola teria mais 7 minutos para serem utilizados, melhorando a evolução, não abrindo buracos, não fazendo a velha guarda e a bateria correrem e não comprometendo outro quesito, como harmonia, uma vez que correrias desnecessárias impedem que os componentes dancem e cantem de forma adequada. Ainda assim, terminaria o desfile bem antes do tempo limite;
- a direção de harmonia não tem a escola “na mão”;
- o planejamento de desfile está sendo mal realizado ou não está sendo executado;
- não existe diferença entre correr no meio do desfile ou correr no final. Tudo prejudica o desfile da mesma forma;
- o GPS não auxiliou na melhoria do andamento do desfile da escola.
7. Bateria: Só não recebeu nota dez de todos os julgadores porque desfilou correndo pelo menos em frente a dois módulos de jurados, não se apresentando para eles. Dois aspectos também devem ser destacados no que tange à evolução da Portela:
- Os problemas de planejamento de desfile prejudicam não apenas o canto e a dança dos componentes, mas também podem prejudicar o desempenho da bateria;
- O fato de a bateria da Portela desfilar nos últimos setores da escola, assim como ocorreu em 2007, faz com que esta tenha menos tempo para realizar sua apresentação para o corpo de jurados, já que acaba sendo utilizada como instrumento para solucionar problemas relativos à evolução inadequada da escola na avenida. Como a escola, ao invés de simplesmente apertar o passo, começa a correr, a bateria é ainda mais prejudicada.
8. Alegorias de adereços: Visivelmente foi o quesito em que a Portela mais melhorou. Mérito do carnavalesco Cahe Rodrigues e de sua equipe de barracão. Houve perda de dois décimos que, a princípio, estão bem justificados pelos jurados. Os erros de organização da escola acabaram por prejudicar este quesito, pois, inexplicavelmente para uma escola do Grupo Especial, um queijo de uma das alegorias passou vazio, sem o seu destaque correspondente. Independentemente da motivação, isto é um total absurdo. Um excelente trabalho prejudicado pela desorganização na concentração da escola, impedindo duas notas máximas.
9. Conjunto: É subjetivo demais para avaliar. Alguns detalhes que podem ter levado à perda dos dois décimos:
- O tripé da energia eólica, que, na verdade, era um carro muito pequeno, quebrava a homogeneidade e destoava das outras alegorias gigantescas;
- O primeiro setor, bem maior que os demais, também quebrava a uniformidade;
- As fantasias repetitivas dentro de um mesmo setor de alas;
- A correria desnecessária na evolução e os pequenos buracos abertos;
- A grande quantidade de componentes com camisas de diretoria.
10. Comissão de frente: O coreógrafo fez um excelente trabalho, mas foi prejudicado por uma série de fatores:
- A grande quantidade de pessoas na frente da escola, que atrapalhou a apresentação em frente à primeira cabine. Os seguranças da LIESA, tentando tirar os “bicões da diretoria”, atrapalharam a apresentação da comissão de frente;
- A sapatilha inadequada para a chuva;
- A indumentária simples demais; um problema que se repete, como no ano passado, em que as notas obtidas foram melhores. As saias também apresentaram problemas ao longo da avenida.
Na opinião desta equipe, o coreógrafo deveria ser mantido.
11. Concentração: Apesar de não se configurar em quesito, pode ter impacto sobre a performance da escola na avenida. Assim como no ano de 2007, mais uma vez, a concentração da Portela foi extremamente desorganizada. A escola já estava em desfile e, por exemplo, alas do terceiro setor ainda se encontravam totalmente misturadas e imprensadas entre dois carros alegóricos. A desorganização da concentração, além de fazer a escola entrar tensa na avenida, cria um desconforto desnecessário para os componentes, o que pode se reproduzir no desempenho destes ao longo do desfile. O excesso de componentes com roupas de diretoria e que não têm ligação com a organização da escola também não auxilia na preparação desta para o desfile.
Síntese
Breve síntese qualitativa de acordo com a avaliação exposta:
- Quesitos em que, em nossa opinião, houve melhoria, independentemente das notas obtidas pela escola: alegorias, bateria, conjunto, fantasias e enredo (embora os dois últimos ainda possam melhorar);
- Quesitos em que a escola teve desempenho inferior, independentemente das notas obtidas: harmonia e evolução;
- Quesitos prejudicados pela falta de organização e falhas no planejamento da escola: comissão de frente, MS e PB, bateria, alegoria, evolução, harmonia e conjunto.
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