Você já teve a sensação de fazer aniversário em uma data totalmente alheia a você? Pois isso me ocorreu no último dia 15 de julho, após o 1º Encontro Internet-Carnaval. Explico: eu sempre fui um apaixonado pela Portela, minha família é quase toda portelense – minha avó não, mas ela é imperiana, ou seja, o bom gosto é característica da família (risos). Continuando... eu apreciava os desfiles da Portela, as notícias que saíam nos jornais, coisas assim. Entretanto, com o passar do tempo, aquela angústia de esperar um ano inteiro passar para ouvir de novo falar das escolas de samba foi aumentando e as notícias se tornavam cada vez mais raras, pois a minha procura também já não era a mesma, eu queria saber mais.
Em meados de 1998, a internet disse “oi” e invadiu o meu lar, eu agradeci e me esbaldei com tantas informações, tornando-me o curioso em que a grande maioria se transforma ao entrar no mundo digital. Encontrava de tudo, mas ainda eram raros os comentários sobre samba, carnaval e Portela na grande rede. Justamente nesse mesmo ano comecei a namorar uma menina (Valéria) que por obra do destino fazia parte de uma família de foliões, a mãe era baiana da União da Ilha e o pai havia desfilado alguns anos como ritmista do Tribo do Cacuia (bloco da Ilha do Governador). Comecei então a desconfiar da maré que me levava, sentia que estava entrando em um caminho sem volta e isso me fascinava cada vez mais. Pelas mãos da Valéria vim a pisar pela segunda vez na quadra da Portela, e numa noite de ensaio de quarta-feira, tive uma sensação estranha de que não mais conseguiria, e nem queria, me afastar dali.
Por não ter vivência de samba nem conhecimentos de internet, resignei-me a esperar que essa demanda de informações carnavalescas fosse atendida em algum momento, fato esse que se deu a partir de 1999, quando pude perceber maior conteúdo sobre a história do carnaval, escolas de samba e afins. Porém, o melhor ainda estava por vir.
Em 25 de novembro de 2000, entrava no ar o site da G.R.E.S. PORTELA, que felicidade! De certa forma me encontrei, encontrei irmãos, poderia agora tentar me entender, pois até então me julgava meio anormal. A galera tinha time de futebol, e eu também, mas aos poucos fui deixando de lado aquele lance passional do esporte e fui me encantando cada vez mais com a querida Águia de Oswaldo Cruz. Costumava dizer que meu time era PORTELA.
A cada visita ao site, ia me alimentando de suas histórias e vendo na figura de Natal o maior de todos os apaixonados. Sua garra, sua força, o lance de fazer o possível e o impossível para e pela Portela mexe com qualquer um. Assisti ao filme “Natal da Portela”, em que Milton Gonçalves, como extraordinário ator que é, dá um show de interpretação. Vi também a história do encontro de Wilma Nascimento com Natal, mas acima de tudo vi uma figura que pouco é falada no mundo em geral e, penso eu, até mesmo no mundo do samba, tomar mais e mais os meus pensamentos: Paulo Benjamim de Oliveira.
Paulo da Portela foi de fato um homem que enxergava à frente do seu tempo. Tinha tal visão política do mundo que acabou se tornando uma unanimidade. Conquistou a todos, sobretudo os negros da época por despertar em cada um deles o amor próprio tão arrasado pelos recentes anos de escravidão. Paulo foi compositor, criou carnavais, participou de filmes, levou o samba ao exterior, foi cidadão-samba, Paulo podia tudo! Ele de fato era diferente, era especial.
Seguia eu com minhas descobertas, já era um fã ardoroso de Paulo da Portela, coisa inconcebível para alguém que conhece a Portela só de desfilar no carnaval, e após alguns anos passei a usar mais freqüentemente o livro de visitas do www.gresportela.com, antigo endereço do Portel@web, lendo e escrevendo depoimentos de vida e de amor à Portela.
Em meados de 2003, começou-se a gerar toda uma expectativa do que seria o carnaval de 2004. Pela primeira vez se cogitava a releitura de antigos carnavais, em comemoração aos 20 anos da LIESA e do Sambódromo.
Quando o ano de 2004 chegou, o clima era muito bom, apesar da resistência da maioria das escolas em reeditar carnavais. Portela, Império Serrano, Viradouro e Tradição optaram por brindar o público com obras já realizadas em outros carnavais, respectivamente “Lendas e Mistérios da Amazônia”, “Aquarela Brasileira”, “Círio de Nazaré” (São Carlos 1976) e “Contos de Areia” (Portela 1984). Neste episódio de 2004 houve pontos positivos e pontos negativos. Entretanto, ao meu ver, o que aconteceu de mais positivo valeu por todos. Quem participou de algum ensaio conjunto sabe do que estou falando. Aconteceu o seguinte: cada uma destas quatro escolas recebeu as três demais em um ensaio em sua quadra em que o clima de congraçamento era total. O samba era na verdade o grande homenageado. Ali, em cada um destes ensaios, o que falava mais alto não era a rivalidade, mas sim a união por terem as escolas tido a chance de, no aniversário da LIESA, erguer a bandeira do samba de forma tão simbólica, cantando juntas.
Justamente em um desses ensaios me tornei batizado no samba, mais precisamente em uma quinta-feira, em que foi realizado na quadra da Tradição, se não me engano, o último ensaio conjunto. Conheci vários rostos por trás daqueles nomes dos quais tão freqüentemente lia comentários no livro de visitas deste site. Pessoas comuns como eu, mas que de diferente tinham aquela paixão inexplicável, como eu, pela escola, pela história, por Paulo, por Natal e por todos aqueles que de alguma forma fizeram a Portela grande. Ser portelense de fato transcende qualquer explicação, foi mágica aquela sensação de encontrar “irmãos desconhecidos”, pessoas de diversos lugares, com histórias de vida tão dissemelhantes e de gerações diferentes, cada um passando um pouco de sua paixão para o outro. É uma utopia, mas talvez o caminho da salvação da Humanidade esteja em momentos semelhantes a estes.
Uma noite especial
Daquela noite, entre várias lembranças, guardo uma em especial. Com grande maioria portelense, a quadra da Tradição curtia o samba até que chega a hora da apresentação da Portela. Gera, então nosso intérprete, começa sua apresentação com “Portela na avenida”, num prenúncio do que ainda estava por vir. A plenos pulmões, a quadra cantava aquele que em minha opinião é um dos mais belos sambas de todos os tempos. Os mais técnicos perdoem meu exagero, mas, ao final deste, Gera começa a chamar pelo portelense cantando o nosso hino, o “Hino da Portela”, composição de Chico Santana.
Estivéssemos em outro lugar e a situação seria normal, porém lembro que estávamos na quadra da Tradição, última dissidência da Portela, daí o que se viu foi um episódio dos mais belos. Lágrimas de várias idades começaram a verter, lágrimas estas que viram uma noite colorida se converter em azul e branco. Com toda certeza, muitos sambistas naquela noite, mesmo que por instantes, foram portelenses.
Equipe Portelaweb - 2007
Texto revisado por Fabrício Soares
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