Arquivo pessoal
|
|
Luiz Carlos na companhia do amigo e parceiro Wanderley Monteiro
|
O carioca do subúrbio da Vila da Penha, tricolor de coração, nascido em vinte e quatro de março de mil novecentos e sessenta e um, fala à Equipe Portelaweb sobre sua paixão pela Águia, que começou ouvindo Paulinho da Viola.
Portelaweb: Desde quando compõe?
Luís Carlos Máximo: Ih, rapaz! Acho que desde uns vinte e poucos anos de idade...
PW: Quais são seus parceiros mais constantes?
LCM: O parceiro mais constante é mesmo o meu amigo Wanderley Monteiro. Mas tenho sambas com Luiz Carlos da Vila, Ratinho, Toninho Geraes, Riko Dorileo, Zé Luiz do Império, Abel Luiz, Ivan Milanez, Moysés Marques, Marquinhos de Oswaldo Cruz, e fui premiado este ano com uma parceria com o Paulo César Pinheiro.
PW: Como e quando surgiu a parceria com Wanderley Monteiro?
LCM: Eu já conhecia o trabalho dele com o Zé Luiz do Império e nas rodas de samba. Sempre me impressionou muito. Há uns dez anos, eu fiz um samba para um bloco que saía na Lapa, “Vai como Pode”, criado pelo Marquinhos de Oswaldo Cruz. O bloco tinha a intenção de colocar em prática um desejo do compositor portelense Manacéa, de desfilar como as escolas de antigamente, com um samba só com primeira parte e o restante versado. O Wanderley desfilou nesse ano e eu perguntei se ele queria terminar. Ele aceitou e fez. Essa foi a nossa primeira parceria, que inscrevemos no concurso de samba de quadra da Portela, no ano passado, e vencemos. Está gravado no CD produzido pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, por iniciativa do então secretário, Noca da Portela.
PW: Já gravou CD? Quais?
LCM: Não. Eu tenho sambas gravados por outros sambistas. O Wanderley tem um CD maravilhoso, “Vida de Compositor”, que é o nome de um samba dele com o Álvaro Maciel que retrata o compositor após perder a disputa de samba-enredo. “Linda melodia, linda poesia, não achei defeito algum mas samba-enredo, só ganha um”. Genial.
PW: Desde quando vocês compõem na Portela? Como começou essa história?
LCM: Há três anos. Na verdade, sou portelense desde quando ouvi um disco do Paulinho da Viola, que era do meu pai, gravado em 1970, que tem o samba “Foi um Rio que passou em minha vida”. Esse disco é formidável. Só tem pérolas. Eu o ouvi na década de 80, e fiquei impressionado. Ali o samba me ganhou. A partir de outros discos do Paulinho eu cheguei às obras maravilhosas dos compositores da Velha Guarda da Portela. A beleza melódica e das letras me fez torcer por essa escola. Bom, mas nunca havia me interessado em disputar samba-enredo e não freqüentava a escola. Até porque já havia todo o processo de descaracterização das escolas de samba. A história da saída do Paulinho e do Candeia, e os motivos que os fizeram sair da escola, tiraram o meu interesse de um dia entrar. Com a história da Nova Portela, eu e o Wanderley fomos convidados por um diretor da escola para que entrássemos para a ala pelo concurso de sambas de terreiro. Chegamos à final. Daí, decidimos participar da disputa de samba-enredo e ficamos decepcionados com o corte na fita. Não sei se foi por não sermos conhecidos na escola, eu sei é que o samba era bonito e não foi para a quadra. Era o enredo da ONU. A decepção acabou gerando um samba de meio de ano muito legal composto por nós dois.
PW: Existe diferença entre samba-enredo e o chamado samba de meio de ano?
LCM: Claro. Além de as estruturas melódica e poética serem completamente diferentes, o samba-enredo é praticamente um samba feito por encomenda. O de meio de ano é livre. Isto não quer dizer que o samba-enredo seja poeticamente ou melodicamente inferior. Não é isso. Só que o compositor fica limitado a um tema pré-determinado e obrigado a falar de coisas essenciais para retratar a história que a escola vai contar na avenida.
PW: Como funciona a parceria de vocês, quem faz letra, melodia...?
LCM: Geralmente o Wanderley faz a melodia e eu, a letra. Mas temos sambas de meio de ano que um fez a primeira, com melodia e letra, e o outro terminou. A Surica gravou um samba nosso, em homenagem à Portela, em que eu apresentei a primeira pro Wanderley e ele fez a segunda.
PW: Vocês vão compor para o carnaval 2008? Existe alguma novidade? Qual? Conte-nos mais sobre isso.
LCM: Vamos. A novidade é que aumentamos o time com dois Toninhos. O Geraes e o Nascimento estarão com a gente neste ano. E a Portela retoma pra sua ala de compositores o talentoso Toninho Nascimento, que já disputou samba na escola com o Romildo, e ganha o Toninho Geraes, que dispensa comentários pela qualidade dos sambas gravados pelo Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Agepê, Dorina e tantos outros sambistas. Aliás, dispensa não. O Toninho merece todos os elogios pelo compositor que é.
PW: Em 2008, a Portela completa 85 anos de fundação. Vocês pensam em fazer uma referência a esta data?
LCM: Sinceramente não pensamos nisso, não. É uma data e tanto, hein?
PW: Quem vocês admiram entre os baluartes e compositores portelenses? Por quê?
LCM: São muitos. Paulo da Portela, Caetano, Rufino, Candeia, Natal, João da Gente, Ventura, Chico Santana, Alvaiade, "seu" Cláudio, Armando Santos, Alcides Malandro Histórico, Manacéia, Alberto Lonato, Argemiro, Jair do Cavaquinho, Walter Rosa, Osmar do Cavaco, Clara Nunes, Dodô, Tia Vicentina, Monarco, Paulinho da Viola, Casquinha, Aniceto, Mijinha... rapaz, é muita gente. Sou obrigado a repetir o refrão do Monarco, “se eu for falar da Portela, hoje eu não vou terminar”. Aliás, foi providencial o Monarco ter criado esse samba porque nos ajuda muito na hora de responder esse tipo de pergunta. Muitas dessas águias já se foram e continuam a brilhar para o samba como as estrelas que já não mais existem, mas cujo fulgor ainda vemos no céu.
PW: Algum projeto para depois do carnaval?
LCM: Não. Vida que segue, caminhando e compondo.
|