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Portela 2008 - Reconstruindo a natureza, recriando a vida: o sonho vira realidade
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09/02/08 22:59
RIO - Equipe Portelaweb
Vanderson Lopes


A Portela iniciou seu desfile de 2008 num clima que misturava desconfiança, esperança, descrédito e expectativa. Durante o período pré-carnavalesco, a dificuldade na obtenção de patrocínio, a escolha tardia do enredo e a curtíssima disputa de samba-enredo foram ingredientes que reforçavam a quase certeza de que, mais uma vez, a escola não chegaria muito além das colocações dos anos anteriores: 7º e 8º lugares.

Quando anunciado, o enredo - como idéia - não foi muito bem recebido, muito porque a crítica carnavalesca, dita especializada, considerava-o mais um daqueles "politicamente corretos" e de não tão fácil carnavalização. Por parte dos portelenses, apesar de em sua maioria eles preferirem um enredo cujo tema forjasse uma identificação com a escola, um enredo otimista sobre a preservação do meio-ambiente poderia dar caldo.

Sinopse liberada, disputa de samba-enredo iniciada. Pouco mais de duas semanas para fazer o samba, pouco menos de um mês para escolher o hino para o carnaval de 2008. Apesar de tudo isso, a ala de compositores da Portela surpreendeu duplamente: bateu o recorde de inscrição de sambas naquele ano entre todas as escolas, com 54 sambas inscritos, e a qualidade dos sambas era incontestável. Durante a disputa, dois grandes sambas se destacaram: o assinado por Ciraninho, Diogo Nogueira, Júnior Escafura, Celsinho Andrade e Ari do Cavaco; e a composição de Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Toninho Geraes. Não havia unanimidade. O primeiro tinha uma letra mais amarrada; o segundo, uma melodia mais elaborada. Na final, ocorrida no dia 13 de outubro, a mesa julgadora, lastreada pela maioria presente, decidiu pelo primeiro. Uma decisão acertada.

A partir daí, a Portela foi se aprumando e a apresentação dos protótipos serviu para encher ainda mais de ânimo os portelenses e para começar a desfazer o descrédito e a desconfiança dos especialistas. Paralelamente, o samba, já considerado um dos melhores, começava a ganhar força com o início dos ensaios técnicos no Portelão.

Por outro lado, notícias davam conta que o trabalho no barracão estava atrasado. Preocupação entre os portelenses e descrédito da mídia. De fato, a Portela começou bem depois de suas concorrentes. Não é exagero nenhum dizer que, no mês de novembro, era uma das escolas mais atrasadas nesse quesito. Diante disso, diretoria e carnavalesco pediam sempre tranqüilidade, alegando estarem os trabalhos dentro do cronograma. Realmente, a partir daí houve um progresso sensível no barracão. Ainda assim, era possível ler e ouvir os formadores de opinião noticiando o atraso da escola. Parecia má-vontade. Cheirava a maldade.

Dezembro chegou e, com ele, os ensaios técnicos na Sapucaí. Três testes fez a Portela, um melhor que o outro. O último foi um presságio de como seria o desfile do dia 3 de fevereiro. Sob chuva fina e com a Sapucaí lotada até o setor 11, a Portela deu um verdadeiro show de canto e evolução. Arrebatou a Sapucaí de emoção. Foi a melhor apresentação da temporada de ensaios técnicos do ano, pela opinião dos presentes.

Veio o desfile e a Portela fez uma grande apresentação. Os carros alegóricos, alvos de tanta e justificada preocupação, estavam excelentes. Há muito tempo não se via tanto apuro em todo o conjunto alegórico da escola. Destaque para quatro carros: à imagem e semelhança do deus Netuno, a tradicional águia veio azul, estática, mas com belos e precisos efeitos de luz que simulavam emersão das águas; o terceiro carro, "Terra, templo da evolução", de acabamento fantástico, vinha com uma onça que rugia alto na avenida e arrancava aplausos da platéia; o quarto carro, "Viva a Vida!", com sua transformação surpresa no trecho do samba "a flor que se abre na primavera / no ventre a esperança que vem renovar o sonho de uma nova era" e a interação com a ala da frente, emocionou a Sapucaí; o sexto carro assombrou pela imponência e pela perfeição na recriação de Bilabi, gorila da família Munyaga, em mensagem pela preservação das espécies.

O samba teve rendimento aquém do que obtinha nos ensaios técnicos do período pré-carnavalesco. Ainda assim, com a competência do intérprete Gilsinho, aliado ao forte canto dos componentes e à excelente evolução da escola, o samba-enredo rendeu como poucos em 2008.

As fantasias, no conjunto, não se resolveram a contento, muito em razão do mau trabalho de reprodução por parte de algumas alas comerciais. Na comissão de frente, a indumentária parece que também não ajudou. Com uma cor muito próxima à tinta que recobre a pista de desfile, a apresentação, que tinha uma rigorosa e detalhadamente ensaiada coreografia, não teve o brilho esperado. Além disso, a comissão de frente, que arrancava aplausos durante seus ensaios noturnos na Sapucaí - e não foram poucos - teve o seu trabalho visivelmente prejudicado pelo excesso de pessoas que vieram à frente da escola.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Falcão e Alessandra Bessa, fez boas apresentações para os jurados. Não foram excelentes porque o peso da fantasia os prejudicou. Resta a dúvida se foi um erro desde o projeto da roupa ou se a chuva fina que caía desde a concentração da escola acabou por fazer pesar ainda mais a fantasia.

A bateria comandada por Nilo Sérgio, que definitivamente é uma das melhores do carnaval atual, fez uma apresentação impecável, mantendo a tradicional cadência portelense e garantindo à escola uma excelente evolução. Aliando tradição às exigências atuais de julgamento, realizou bossas que arrancaram gritos de "É campeã!" do público presente nos setores 1, 4, 6, 11 e 13.

E foi assim que a Portela terminou o seu desfile na manhã de segunda-feira: aplaudida e revigorada. Venceu a desconfiança e o descrédito. Venceram a esperança e a garra dos portelenses. Em cada um de nós, a certeza de um trabalho bem realizado. O conjunto da Portela funcionou. Na abertura dos envelopes, a escola ficou em 4º lugar, voltando ao desfile das campeãs após um jejum de 10 anos. A expectativa para 2009 é das melhores, desde que mantida a seriedade.

Ouça o áudio do desfile:


Texto revisado por Fabrício Soares.

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LIESA e O Dia

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