PW: Como era ser porta-bandeira naquele tempo?
Dodô: Era diferente. Tanto para mim quanto para as outras porta-bandeiras antigas. A dança era diferente. O rodopio era diferente.
PW: O carnaval mudou muito, não é, Dodô?
Dodô: Mudou. Mudou muito.
PW: O que a senhora acha do carnaval de hoje? Naquela época todos na escola se conheciam, não é verdade?
Dodô: Bom, justamente, todo mundo se conhecia, como agora. Vocês agora já passaram a me conhecer (risos) e assim todo mundo vai se conhecendo. Mas, quando eu vim para a Portela, tinha mais harmonia, tinha mais vontade, tinha mais garra no samba. Os compositores, para concorrer com o samba, tinham as pastoras julgando na quadra, cantando. O samba mais bem cantado é que a gente levava para a avenida. O samba não podia ser pequeno como agora.
PW: Como assim? Como era o samba naquela época?
Dodô: Quando eu vim para cá, as pastoras cantavam em coro. O estribilho era versado. Os compositores vinham na frente da bateria e versando. Agora não. De 1935 para cá, o samba já teve que ter estribilho.
PW: A senhora acha que hoje o som da avenida atrapalha, impedindo que as pessoas cantem?
Dodô: Ué, atrapalha por quê? Só não canta quem não quer. Quanto mais som, melhor. Para quais escolas vocês torcem?
PW: Todos somos portelenses.
Dodô: Vocês são portelenses, mas no meu tempo, no primeiro ano em que eu saí, em 1935, ninguém me ensinou, meu mestre-sala disse apenas: "Quando tocar o sinal você entra", era garra. Mas agora o que está faltando ao nosso samba é amor. Cada um por sua escola. Se você era Portela, você não podia sair na Mangueira, no Salgueiro... agora não. As pessoas somente em uma noite saem em 4 ou 5 escolas. Estão enganando os outros.
PW: O que a Portela representa para a senhora?
Dodô: Tudo. É minha família.
Texto revisado por Fabrício Soares.
Entrevista exclusiva. Concedida na Portelinha em 17/06/2001. |