Antecipando-se à divulgação das justificativas das notas, a Equipe Portelaweb apresenta, neste documento, uma análise crítica do carnaval 2007 da Portela, que desfilou com o enredo "OS DEUSES DO OLIMPO NA TERRA DO CARNAVAL - UMA FESTA DO ESPORTE, DA SAÚDE E DA BELEZA".
A avaliação ora apresentada procura ser objetiva e tem como principal intuito auxiliar os diretores de nossa escola a recolocar a Portela na disputa pelo título. Destacamos aqui, em itens, os pontos positivos, ganhos que devem ser mantidos e aperfeiçoados e, ainda mais, os aspectos negativos, que necessitam ser melhorados ou totalmente alterados.
Não por coincidência, muitas das sugestões que serão apresentadas mais abaixo são corroboradas por um grande contingente de pessoas experientes no meio do samba. É um documento endereçado a todos os portelenses e admiradores da Portela, mas, sobretudo, àqueles que estão ou estarão no comando da escola. Importante ressaltar a urgência com que algumas dessas medidas precisam ser tomadas. Muitas delas não podem esperar, por exemplo, o fim de um possível processo eleitoral. Mais do que nunca, agora é o momento.
A Equipe Portelaweb acredita, assim, estar cumprindo o seu papel.
PONTOS POSITIVOS
- Manutenção do mestre de bateria Nilo Sérgio: A manutenção do Mestre Nilo Sérgio mostrou-se acertada, pois além de valorizar um competente profissional portelense, conferiu maior credibilidade e qualidade à bateria da escola.
- Manutenção dos intérpretes Gilsinho e Pixulé: A manutenção de Gilsinho como primeiro intérprete da Portela, sustentado pelo talentoso Pixulé, garantiu um carro de som muito elogiado pelos críticos de carnaval. Tal estratégia foi eficaz para o bom desempenho do samba-enredo no desfile de 2007. Além disso, Gilsinho se mostrou um intérprete com empatia e boa comunicação com os portelenses e com o público em geral.
- Escolha do samba-enredo de Ciraninho, Diogo Nogueira e Celsinho de Andrade: Assim como em 2006, a escolha do samba que apresentou melhor desempenho na quadra ao longo das disputas foi a melhor estratégia e, certamente, garantiu em 2007 as quatro notas dez no quesito samba-enredo.
- Ensaios individualizados de algumas alas: Nas semanas que antecederam o carnaval, mostrou-se adequada a realização de ensaios separados para alas coreografadas que possuíam função importante no enredo da escola, tais como baianas, baianinhas e ala das bandeiras.
- Comissão de frente: Neste quesito, a Portela deu um salto grande de qualidade em relação aos últimos carnavais. O investimento em uma comissão de frente mais moderna e adequada ao enredo garantiu à Portela a segunda melhor nota entre as escolas do Grupo Especial.
- Ensaios da comissão de frente e do casal de mestre-sala e porta-bandeira no Sambódromo: A realização de ensaios da comissão de frente, em conjunto com o casal de mestre-sala e porta-bandeira no Sambódromo, nas semanas que antecederam o carnaval, foi uma estratégia acertada. Além da grande responsabilidade de abrir o desfile, sendo dois quesitos em avaliação pela comissão julgadora, comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira puderam simular de forma mais real, em espaço adequado, o que seria apresentado na avenida.
- Qualidade na confecção das fantasias das alas de comunidade, das baianas, da bateria e dos passistas: Destaque para o bom trabalho na confecção das fantasias das alas supracitadas que formaram um bom conjunto na avenida. Certamente, a confecção com antecedência de tais fantasias auxiliou na garantia da qualidade do conjunto de figurinos proposto.
- Ala de Passistas: O trabalho realizado por Nilce e Walcyr transformou a ala de passistas da Portela em referência no carnaval carioca. Não surpreende o Estandarte de Ouro ganho pelo passista portelense.
- Convite para que Vilma Nascimento apresentasse o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: A escolha desse ícone do carnaval e da própria Portela foi importante na preparação do casal e transmitiu credibilidade a eles perante os jurados.
PONTOS NEGATIVOS
- Manutenção e escolha de carnavalescos que jamais apresentaram trabalhos individuais de reconhecida qualidade: Desde 2005, a Portela vem insistindo na escolha de carnavalescos pouco experientes e que normalmente apresentam trabalhos individuais de qualidade discutível. Não causa estranheza a pouca competitividade que a Portela tem obtido em quesitos como alegorias, fantasias e enredo, os quais dependem da competência dos carnavalescos.
- Atraso na escolha do enredo: Além de expor a Portela às críticas negativas por parte da imprensa de carnaval, do público do samba e da própria LIESA, o atraso na escolha do enredo se mostrou inadequada, causando adiamentos indesejáveis ao início dos trabalhos de elaboração do projeto de carnaval da escola, além de garantir tempo mínimo para a confecção da sinopse do enredo e para a composição do samba-enredo.
- Elaboração da justificativa e da sinopse do enredo: A sinopse do enredo apresentada pela Portela mostrou-se fraca e confusa. Além de conter erros gramaticais e de concordância, pode ter gerado confusão para os jurados do quesito enredo que, possivelmente, não encontraram na sinopse elementos que permitissem justificar o que a Portela apresentou em seu desfile. Tal deficiência pode ter motivado as três notas diferentes de dez obtidas pela escola neste quesito.
- Projeto de carnaval de qualidade discutível: Desde o seu início, o projeto de carnaval apresentado pela Portela mostrou-se pobre em criatividade e em soluções artísticas. Dificilmente um projeto que nasce com problemas pode ter sucesso em sua conclusão. Para que fosse possível fugir de soluções óbvias que um enredo sobre esportes poderia apresentar, apesar de haver mérito na fácil leitura do que foi apresentado na avenida, seria necessário o trabalho de carnavalesco(s) mais experiente(s), criativo(s) e de competência profissional reconhecida.
- Atraso para o início do trabalho de confecção das alegorias: Nos carnavais atuais, não é possível que uma escola que deseje ser campeã inicie seus trabalhos de confecção de alegorias faltando pouco mais de vinte dias para o carnaval. A busca de soluções para eventuais problemas que surjam ao longo da confecção dessas alegorias e para aspectos envolvendo a iluminação dos carros e todos os testes necessários fica muito prejudicada. Não causa estranheza, portanto, que muitas das alegorias apresentadas pela Portela tenham “desaparecido” na avenida.
- Desorganização da concentração da escola: A concentração da Portela em 2007 foi extremamente desorganizada. Além de inúmeros componentes que não conseguiam identificar diretores que pudessem auxiliá-los na localização de suas alas, apesar de várias pessoas com camisa de diretoria, com a escola já entrando na avenida, as alas do segundo e do terceiro setores ainda estavam fora da posição de desfile. O mesmo se repetiu no setor final da escola em que a alternativa por dispor alas lado a lado gerou confusão na concentração e nos momentos que antecederam a entrada dessas alas na avenida.
- Alegorias de qualidade artística duvidosa: A alternativa pelo uso excessivo de alegorias vazadas, contendo pouca informação, muitas vezes restritas à utilização de “queijos” e de esculturas, além de mal iluminadas, contribuiu para que a Portela recebesse, quando comparada às escolas do Grupo Especial, a pior avaliação do quesito alegoria e adereços. Além disso, desde 2005, a Portela vem pecando na qualidade das fantasias das composições dos carros alegóricos. No carnaval de 2007, apesar de o enredo até permitir alguma liberdade para que atletas utilizassem shorts e camisetas, houve um uso excessivo destas vestimentas. Além de as alegorias apresentarem qualidade artística duvidosa, a má qualidade das fantasias das composições dos carros contribuiu para que a Portela fosse penalizada no quesito em questão. É importante lembrar que as composições compõem o que se conhece como conjunto alegórico. Este conjunto é avaliado pelos jurados de alegorias e adereços. O fraco resultado obtido pode ser debitado também do trabalho dos carnavalescos.
- Fantasias de qualidade artística duvidosa: Excetuando o primeiro, o segundo e o último setores, as fantasias apresentadas pela Portela se mostraram fracas na escolha de materiais para confecção e na composição de um visual adequado para uma escola que deseja disputar o campeonato. O excesso de alas que mencionavam os esportes, onde não houve criatividade na elaboração dos figurinos, soluções artísticas idênticas para alas que mencionavam os malefícios do uso inadequado de suplementos e dos benefícios da prática de exercícios físicos, além da fantasia referente às vilas olímpicas, possivelmente a mais feia entre todas as apresentadas pelas escolas em 2007, certamente contribuíram para que a Portela recebesse a quinta pior nota no quesito fantasias, entre todas as escolas do Grupo Especial. Mais uma vez, o fraco resultado obtido pode ser atribuído aos carnavalescos e também ao enredo escolhido pela escola, de difícil carnavalização.
- Ausência de um diretor de carnaval: Para que o trabalho de planejamento de carnaval de uma escola de samba possa ser executado de forma harmônica em função do objetivo definido pela agremiação, de forma coerente com o cronograma estipulado, e que seja auxiliar na escolha das melhores alternativas em momentos de conflito, é essencial o trabalho de um diretor de carnaval experiente. Em 2007, não houve um profissional que pudesse exercer com autonomia a função acima mencionada.
- Ausência de um diretor de harmonia: Apesar do esforço da comissão de harmonia da Portela, ficou clara e evidente a importância e a necessidade da contratação de um profissional responsável e que tenha autonomia para dirigir a harmonia desta agremiação. A Portela desfilou sem um padrão objetivo e uniforme de evolução. Os primeiros setores da escola desfilaram em ritmo lento. Aos quase cinqüenta minutos de desfile, tempo muito avançado, o segundo setor da escola chegava à área de dispersão. Os setores do meio e os finais, em determinado momento, iniciaram uma correria desnecessária pela avenida, comprometendo a harmonia da escola. A bateria saiu atrasada do primeiro recuo, no sexto setor da escola. Ainda assim, apresentando tantos erros, a Portela finalizou o seu desfile com quase dez minutos de tempo residual, tempo útil que poderia ter sido utilizado de forma mais apropriada. A presença de um diretor de harmonia experiente poderia ter auxiliado a Portela na obtenção de uma evolução mais uniforme pela avenida. Possivelmente, os problemas acima mencionados tenham sido decisivos para que a Portela fosse penalizada nos quesitos harmonia, evolução, conjunto e também em bateria (nota 9,7), já que a correria identificada pode ter prejudicado a apresentação da bateria em um dos módulos de jurados.
- Pequeno número de alas de comunidade: A Portela, que já foi exemplo na inserção organizada de alas de comunidade em seus desfiles, apresentou no carnaval de 2007 – excetuando alas das baianas, bateria e passistas – um pequeno contingente em alas de comunidade (não mais do que cinco alas). Apesar de notoriamente a Portela ser uma escola em que os integrantes fazem a diferença, mesmo aqueles das alas comerciais, amparar-se sempre na idéia de que estas alas darão conta do recado mostra-se estratégia equivocada. Um grande contingente de componentes em alas de comunidade, que ensaiasse na quadra, já garantiria à Portela entrar na avenida, nos ensaios técnicos e no desfile oficial, com vantagem sobre as co-irmãs.
- Ausência de contrato formal com os profissionais que trabalham no carnaval da Portela: É indispensável que, para os principais profissionais responsáveis pelo carnaval da Portela, haja a contratação formal desses colaboradores (contrato assinado e registrado em cartório). Nesses contratos devem estar estabelecidas não só as responsabilidades da Portela em relação aos seus colaboradores, em que se incluem os salários negociados, mas também a responsabilidade destes profissionais em relação à Portela. Assim, a Portela ficaria menos sujeita às surpresas negativas de última hora e estabeleceria um relacionamento profissional digno, como faz a maioria das co-irmãs do Grupo Especial, com intérpretes, carnavalescos, mestre de bateria, diretores de carnaval e de harmonia, casal de mestre-sala e porta-bandeira, entre outros.
Rio de Janeiro, 06 de março de 2007.
EQUIPE PORTELAWEB
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