Bateria

Carnaval 2006
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28/01/06 02:26
RIO - Equipe Portelaweb
Marcello Sudoh


Acervo Portelaweb

Nem chuva segurou Tabajara de Mestre Nilo

O desfile da bateria da Portela em 2006 foi a síntese de toda a escola na avenida: garra, competência e emoção, temperadas com evolução.

Depois de um ano lamentando os problemas do desfile de 2005 - quando pela primeira vez na história da escola a Velha Guarda foi impedida de desfilar – a Águia garantiu no quesito Bateria 39,9 pontos, sob a batuta de um mestre estreando na avenida. Novidade na história dos desfiles? Não por esse fato. Mas Nilo Sérgio, 26 anos de idade, seria o primeiro mestre de bateria a receber o Estandarte de Ouro de O Globo como Revelação do ano.

Meteorologista
Pouco depois da zero hora de terça-feira de carnaval, Nilo sai da quadra rumo ao ponto de encontro previamente marcado: a Cidade do Samba, complexo de barracões recém-inaugurado na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Mas devido a um pequeno desencontro, os quatro ônibus, levando grande parte dos 295 ritmistas, acabam indo direto para a concentração na Marquês de Sapucaí.

Antes de deixar a quadra, Nilo afina caixas e repiques. Os surdos, deixa para afinar na avenida. O trabalho é feito por ele mesmo com a ajuda dos diretores Vinício e Lói. Por precaução, cobre o couro das marcações com plástico.

Já no finalzinho do desfile do Império Serrano – que passou na Sapucaí antes da Portela – começa a chover. O sambista, versátil, pressionado pela responsabilidade e pelo amor à escola, vira até meteorologista. Os couros protegidos previamente dão segurança ao Mestre Nilo, que já começa acertando.

Com os primeiros pingos caindo, a Portela se arma na concentração. No carro de som, Gilsinho – filho de um ex-baluarte portelense e também estreando na escola – dá o tom da puxada, acompanhado por Mauro Diniz, Carlinhos do Cavaco e Lelê no cavaquinho, Paulão Sete Cordas no violão e Damião na marcação.

Os guias – microfones presos ou sobre os instrumentos que servem de base para toda a bateria – ficam conforme o planejado: um no surdo de primeira, um no surdo de segunda e um no de terceira. Os girafões – microfones de vara – são colocados em dois lugares diferentes: no meio dos quatro repiques que pontuavam as bossas e sobre o naipe de caixas.

Sob muito choro e muita chuva, a bateria entra em ação com o esquenta Portela na Avenida.

O couro come
Os surdos de terceira tocam forte a batida da escola, característica única desde que foi inventada pelo ritmista Sula na década de 40. A rufada das caixas, outra característica da Tabajara do Samba, acompanha as marcações. Os repiques sustentam o samba que sempre faz chorar os portelenses:

- Portela. Eu nunca vi coisa mais bela, canta Osvaldo Cruz na avenida! O couro come espalhando a água da chuva no rosto dos ritmistas.

Na frente da bateria, as miudezas – cuícas, chocalhos, agogôs e tamborins – dão o molho, desenhando a melodia. Pisa com garra a escola ferida na Sapucaí!

Mestre Nilo improvisa um pedestal de cilindro feito por um amigo. O que tinha preparado para o desfile acaba sendo esquecido na quadra. Do alto do cilindro, Nilo tem a visão de toda a bateria, lembrando Mestre Marçal, que subia num carrinho para conseguir mostrar os sinais para os diretores. Isso num tempo em que o corredor no meio da bateria não existia.

Ao lado de Mestre Nilo, a rainha Adriana Bombom, Índio nos pratos e o inconfundível Genésio, com o chocalho peão, instrumento que sumiu das baterias por conta da aceleração do samba. Na direção, Vinícius Bomba (tamborins), Lói e Júnior (caixas), Vinício Rato (repiques) e Bombeiro (surdos) contam com a ajuda de mais 4 auxiliares.

Passada a emoção do esquenta, soa a sirene para o início do desfile. Gilsinho canta pra subir o samba-enredo "Brasil, marca a tua cara e mostra para o mundo", de Mauro Diniz, Ary do Cavaco, Júnior Scafura, Marquinhos de Osvaldo Cruz e Naldo.

Mestre Nilo leva para a avenida duas bossas e o resultado é o esperado: a arquibancada levanta. É a Tabajara dando sua tradicional aula de cadência e ritmo. Os 295 ritmistas permanecem tocando no primeiro recuo por pouco mais de 40 minutos, até que a Direção de Harmonia sinaliza a manobra da bateria para entrar na avenida, logo depois da passagem da sexta alegoria.

Nesse ponto, o andamento da Portela é em média de 77 BPM - batidas por minuto -, o que permite à escola impor uma ótima cadência como pede o samba-enredo, colaborando muito com a evolução dos componentes.

Com a fantasia representando as três raças que formam o povo brasileiro, a bateria vira à direita e rasga a Sapucaí, que brilha espelhando a chuva.

Quem ficou viu
A maior preocupação de Mestre Nilo era se apresentar bem nos quatro módulos onde se encontravam os julgadores. Mas é logo no primeiro módulo, setor 3-B, camarotes 3, 4 e 5, que a Portela perde seu único décimo de ponto em todo o desfile: o julgador Cláudio Matheus dá 9,9 à escola, justificando falta de criatividade.

Para uma escola que tem como princípio preservar as características de sua bateria, fazer duas bossas já é criatividade suficiente. A bateria da Portela não tem tradição de paradinhas ou bossas. E, por força da pontuação, é obrigada mais um vez a ferir um de seus fundamentos para agradar um modelo de desfile que premia o show.

Depois do desfile, Mestre Bombeiro - diretor responsável pelos surdos, mas carinhosamente chamado de mestre pelos ritmistas - e o diretor Lói - o advogado Clóvis de Almeida Júnior - disseram que não entenderam a nota por falta de criatividade, já que a bateria vinha executando duas bossas e sem erro. Para os dois diretores, que juntos somam mais de 60 anos de bateria, faltou sensibilidade ao primeiro julgador.

Cem caixas
Apesar de castigada pelo temporal e correndo o risco de perder a afinação dos surdos e o andamento por causa da chuva - o que fatalmente prejudicaria vários quesitos em julgamento -, a escola faz um bom desfile. A bateria percebe isso pela reação do povo na avenida.

As bossas melhoram em desempenho e precisão, mesmo desfilando com um número grande de ritmistas jovens. O julgadores Jorge Simas e Geraldo Vespar, ambos no setor 2-C, dão nota 10 à escola. A Águia, na chuva, voa mais alto.

Segundo Mestre Bombeiro, durante uma rápida afinação num surdo de terceira, o couro chega a rasgar por baixo do plástico de proteção, mas é imediatamente substituído. O fato não prejudica em nada a bateria.

Já o diretor Lói passa o desfile todo preocupado com os surdos, uma vez que a chuva desafina o instrumento. Lói revela uma curiosidade do naipe de caixas da Portela: a escola desfila com cem caixas, dez delas tocadas em cima e com três bordões - cordas esticadas sobre o náilon do instrumento -, enquanto que as outras 90, com a batida da Portela, usam 4 bordões. Como as tocadas em cima têm afinação diferente das tocadas em baixo, o número de bordões usado também muda.

Sete minutos
Para ganhar tempo, a bateria entra de frente no segundo recuo. Coisa rara na Portela. Esse era o momento que mais preocupava Mestre Bombeiro, que pela primeira vez – fora os ensaios - vê sua bateria entrar dessa maneira no segundo recuo. A manobra provoca uma pequena redução no andamento das marcações, mas é logo corrigido. A bateria alcança a média de 73 BPM.

Mestre Nilo havia armado os ritmistas de forma que, dentro do segundo recuo, só os instrumentos leves precisariam trocar de lugar retornando para a frentre da bateria. Caixas, repiques e surdos têm apenas que girar 180 graus para se posicionarem novamente.

Lói lembra a ousadia de Nilo que, mesmo com a chuva, realiza várias vezes as bossas e, apesar de jovem e estreante, passa muita segurança e tranqüilidade para o grupo, liderando-os como um veterano.

A tradicional pane do carro de som não acontece, aquela em que o som desaparecia no momento da entrada do segundo recuo e que se repetia ano a ano. A afinação das marcações cai um pouco, mas não compromete a harmonia.

O tempo que os ritmistas ficam no segundo recuo é curto porque grande parte da escola já estava na dispersão. Mestre Nilo faz algumas bossas e a bateria é chamada para tomar de novo a Marquês de Sapucaí. Isso tudo soma pouco mais de sete minutos.

Dispersão invadida
A saída do segundo recuo é perfeita e, ao passar em frente ao quarto e último módulo de julgamento, no setor 11, a bateria é avaliada pelo julgador Willian Júnior, que dá nota 10 à escola. Nesse momento, a marca é de 71 BPM, uma média normal para um final de desfile.

Como é a útlima agremiação a desfilar, a Portela fica ainda um bom tempo tocando na Praça da Apoteose, num último enlace entre portelenses e espectadores. Alguns foliões invadem a dispersão e se misturam aos componentes.

Uma onda de abraços e lágrimas sacode a escola e o povo se junta à Azul-e-branco de Osvaldo Cruz.

E nesse clima, o mais jovem Mestre de Bateria do Grupo Especial, estreando na posição, ainda teria mais uma surpresa e uma alegria. O Estandarte de Ouro de Revelação do Carnaval de 2006, a mais conhecida premiação do carnaval carioca, seria da Portela. Seria de Mestre Nilo. E a rainha da bateria, Adriana Bombom, levaria o Tamborim de Ouro do Jornal O Dia.

A Portela havia retornado à Marquês de Sapucaí, superado a forte chuva e desfilado triunfante no altar do carnaval!

PS - Foi ouvido o desfile ao vivo pela Rádio MEC, Rádio Tupi e Rede Globo. Depoimentos de Mestre Nilo Sérgio, Mestre Bombeiro e Diretor Lói.

FICHA TÉCNICA EM 2006
Mestre de bateria:Nilo Sérgio (estreando)

Diretores: de bateria:Vinícius Bomba (tamborins), Vinício Rato (repiques), Lói (caixas), Júnior (caixas), Bombeiro (surdos)

Instrumentos: Surdos de primeira: 11; surdos de segunda: 13; surdos de terceira; 18; caixas: 118; tambotins: 36; repiques: 36; pratos: 2; agogôs: 15; cuícas: 15; chocalhos: 36

Rainha de bateria: Adriana Bombom

Equipe Portelaweb - 2006
Texto revisado por Fabrício Soares

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