Bateria

Bateria em 2007
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31/03/07 12:54
RIO - Equipe Portelaweb
Marcelo Sudoh


O Dia

Mudança: 10 caixas tocadas em cima

Bossas e liras marcam desfile

O desfile de 2007 foi a consagração de um trabalho que vem sendo feito desde que Mestre Nilo Sérgio assumiu a bateria, antes do carnaval de 2006. Ao lado do Império Serrano, a escola foi considerada uma das melhores baterias que desfilou no Grupo Especial. Elogiada pela imprensa carnavalesca, a equipe reunida por Mestre Nilo vem fazendo justiça ao título de "Tabajara do Samba".

Mas mesmo com toda a emoção, a choradeira, as duas bossas que agitaram a avenida e as liras que solaram o samba, o que mais chamou a atenção este ano foi a nota dada pelo jurado do Módulo 1, William Luna Júnior: 9,7. "Não sei o que aconteceu", afirma Mestre Nilo, que, coincidentemente, tinha nesse módulo sua principal preocupação no desfile.

Sem chocalho pião

Às 18h do domingo de carnaval, Mestre Nilo chegava ao Sambódromo para fazer a última afinação dos instrumentos e conferir os acertos mais urgentes. Por via das dúvidas, não passou o chapéu da fantasia para os ritmistas. Ele temia que alguém acabasse esquecendo o chapéu em algum lugar. Caso isso acontecesse e o ritmista desfilasse sem a peça, a escola poderia ser penalizada no quesito Fantasia.

Mestre Nilo estava seguro da boa apresentação que a bateria faria durante o desfile. Havia tomado todos os cuidados. A armação dos instrumentos em 2007 era muito próxima à de 2006: 11 surdos de primeira, 13 surdos de segunda, 18 surdos de terceira, 121 caixas, 40 tamborins, 39 repiques, 44 chocalhos, 24 cuícas e 1 prato. A novidade eram as liras, 10 no total. Mas, neste naipe, também não havia a menor preocupação. Estavam todos exaustivamente treinados.

Por causa de um problema de saúde, o veterano Genésio não desfilou com seu inconfundível chocalho pião - também conhecido como chocalho balão. Em compensação, o principal surdo de primeira vinha nas competentes mãos de Luciano, irmão mais velho de Nilo Sérgio. Era ele quem puxava a marcação da escola.

O resto da diretoria estava toda lá: Bombeiro e Lói nos surdos, Júnior e Vandame na caixas e repiques, Vinicius nos tamborins, Vinicius Rato nos chocalhos e Gigante nas miudezas, um menino de 14 anos de idade auxiliando diretamente Mestre Nilo.

A posição da bateria dentro do organograma do desfile era no Quarto Setor, exatamente a 13ª Ala. Mas ela acabou desfilando no Sexto Setor, atrás da Ala 25 - Clara Guerreira, com a fantasia denominada "Sim à Vida, Exercícios Saudáveis". Segundo Mestre Nilo, saindo mais atrás, a bateria não precisaria se locomover com tanta rapidez, permitindo que a apresentação em frente aos módulos fosse feita sem pressa e atropelos. Daí a mudança. A fantasia da bateria também ajudava bastante. Estavam todos trajando um terno de comitiva de abertura olímpica.

Com tudo sob controle, a bateria iniciou o esquenta com "Portela na Avenida" e passou ao samba-enredo "Os Deuses do Olimpo na Terra do Carnaval - uma Festa do Esporte, da Saúde e da Beleza", de Celsinho de Andrade, Ciraninho e Diogo Nogueira.

Coincidência

As bossas foram feitas durante todo o desfile em meio à choradeira dos ritmistas. Olhando para os espectadores que assitiam ao desfile, eles percebiam que a Portela vinha bem. Em frente aos quatro módulos de jurados, o cuidado foi redobrado. Todos os jurados aplaudiram a passagem da bateria. Mas na cabeça de Mestre Nilo, outros pensamentos se passavam:

- Não sei por qual motivo minha preocupação esteve o tempo todo na passagem do Módulo 1. Inclusive antes de começar o desfile.

Para ele, esse era o momento mais difícil e delicado de 2007, porque ali aconteceria a primeira parada da bateria para a apresentação das bossas ao primeiro jurado. "Se nos saíssemos bem ali, o resto iria acontecendo naturalmente" , pensou.

Para o diretor Lói, aquele também era um dos momentos do desfile que mais o preocupavam:

-"Fiquei preocupado com as saídas e com a entrada do box. Como a saída do primeiro recuo é próxima ao Módulo 1, nossa atenção tinha que ser maior", conta Lói.

Apesar da preocupação, tudo saiu conforme o esperado. Para Mestre Nilo e para o diretor Lói, não houve qualquer erro:

- "Paramos, fizemos as bossas e fomos em frente", lembra Nilo.

Mal-estar rítmico

Qual seria então o motivo da nota 9,7 dado pelo julgador William Luna Jr.? Nilo e Lói não sabiam. Depois da apuração, Mestre Nilo conversou com os diretores e pensou em várias coisas:

- "Seriam as liras? Se fosse isso, os outros jurados teriam tirado pontos também", concluiu.

Mestre Nilo teve o cuidado de informar a presença das liras aos editores do livro Abre-Alas, publicação da LIESA - Liga Independente das Escolas de Samba - que é entregue aos julgadores descrevendo como desfilaria toda a escola. Ele temia que algum jurado, mal informado, entendesse que a lira não era um instrumento de bateria.

Havia ainda uma outra hipótese para o erro:

- "Da frente da bateria não dá para ver todos os ritmistas. Mas do alto, com a fantasia sem volume que desfilamos, o jurado tinha uma visão muito boa", conta. Ele não descartava a possibilidade de o jurado ter interpretado mal o movimento de algum ritmista.

Mestre Bombeiro, mais de 40 anos de bateria da Portela, arriscou um palpite:

- "Durante uma paradinha, perto do Módulo 1, teve um surdo de terceira que parece ter se esquecido e, em vez de fazer a bossa, fez a batida de terceira da escola. Pode ter sido isso", lembra Mestre Bombeiro, que disse ter ouvido o mesmo do próprio Nilo Sérgio.

Mas na justificativa do jurado do Módulo 1, o problema havia ocorrido em outro naipe: nas caixas. William Luna Jr. alegou "confusa manutenção da cadência na ala de caixas, provocando um constante mal-estar rítmico, inclusive prejudicando as retomadas e as paradinhas."

Depois de lerem a justificativa, Mestre Nilo e equipe resolveram dar uma olhada no vídeo do desfile produzido pela LIESA. O vídeo não são de imagens da Globo. Eram imagens feitas pela própria Liga para que as escolas pudessem checar os erros.

Nesse vídeo, o áudio está limpo, sem os comentários da emissora. Nele, Nilo afirma que dá para ouvir o erro da terceira. Mas nas caixas, segundo o mestre, não houve erro algum durante todo o desfile. "A escola deve pedir para ele não julgar mais", comentou Nilo.

Lira na cabeça

O mestre explicou que controla a afinação dos instrumentos através dos microfones que ficam presos nos instrumentos ou sobre eles, chamados de "guias". Sobre as caixas, os microfones são compridos, chamados de microfones "girafa". Isso permite que algum erro seja identificado rapidamente.

O que saiu diferente do prometido foram as liras, que deveriam ter feito uma coreografia na frente da bateria. Como a rainha da bateria, Adriana Bombom, veio com vários guardiões, não foi possível realizar a coregografia. Mas o naipe de liras às vezes dava uma rodada, e uma delas acabou pegando a cabeça de um diretor. "Nada grave", conta sorrindo Mestre Nilo, ao lembrar da cena. Uma outra novidade foram as 12 modelos que vieram à frente da bateria tocando uma espécie de xique-xique. "Foi um pedido do presidente", comentou.

O mestre lembra ainda de uma cena inusitada. A alegoria do Barão de Coubertin teria passado muito rápido na frente dos ritmistas, causando um certo riso em meio ao choro que tomava conta do pessoal.

Bonequinho de pau

Com a longa experiência em desfiles que lhe cabe, Mestre Bombeiro reclama da forma com que a bateria passou a entrar no segundo recuo:

- "Eu não gosto dessa entrada de frente, porque depois tem que trazer cuícas, chocalhos e tamborins para a frente da bateria. O pessoal fala que é por causa da Liga. Mas eu acho que não. Acho que isso é opção. Aliás, foi a Portela quem inventou essa coisa de passar direto pelo segundo recuo, parar, dar meia-volta e entrar de ré. Quando a Portela fez isso pela primeira vez, todo mundo pensou que ela ia passar direto, que não ia parar. Mas a gente virou, voltou e entrou no recuo. Foi a maior aclamação. Todo mundo copiou depois. Mas tudo bem, a gente tem que aceitar o que for melhor para a escola".

Mas Mestre Bombeiro não vive só de saudade:

- "Este ano eu gostei de uma evolução que os tamborins faziam. Depois da convenção, eles ficavam ziguezagueando, andando como se fossem uns bonequinhos de pau. Acho que devia ter isso todo ano. Sei que jurado de bateria não tem que ficar julgando evolução. Eles têm que julgar ritmo. Mas eu gostei", disse o mestre, rindo.

As mudanças para 2008

Para 2008, Mestre Nilo já revela algumas mudanças. Ele prepara uma bossa longa e uma bateria mais enxuta:

- "As outras baterias vêm fazendo bossas longas e a gente não pode parar no tempo, porque os jurados querem criatividade. Vou consultar a Velha Guarda sobre isso, porque ninguém melhor que eles para saber se isso é legal. Vou bolar uma bossa e mostrar a eles. Também vou reduzir a bateria, exigindo menos quantidade e mais qualidade. Vou fazer a peneira da peneira. Quem tem seu espaço vai continuar. Quem eu vir que não dá, vou ter que dispensar, principalmente aqueles que não vêm ao ensaio técnico na Sapucaí. Tem gente que acha que toca muito e não vem ao ensaio. Mas a seleção não vive só de Ronaldinho", conclui o mestre.

PS - Foi ouvido o desfile ao vivo pela Rádio MEC, Rádio Tupi, Rede Globo e duas fontes de áudio gravadas ao vivo no Sambódromo. Depoimentos de Mestre Nilo Sérgio, Mestre Bombeiro e Diretor Lói.

Equipe Portelaweb - 2007

Revisão ortográfica: Fabrício Soares

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