Acervo Portelaweb
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Muita ráfia e palha nas fantasias da Portela
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Para o desfile de 1972, a Portela atribuiu a responsabilidade de desenvolver seus enredos a um departamento cultural, sob a organização e liderança do médico e pesquisador Hiram Araújo. "Ilu ayê" foi o primeiro trabalho realizado por esse departamento, e contou com a participação do compositor Antônio Candeia Filho, grande defensor das tradições africanas no Brasil, que auxiliou Hiram no desenvolvimento do trabalho.
O último ensaio realizara-se no quartel dos marinheiros, e a animação servira de prenúncio para o grande desfile que os portelenses tinham certeza que iriam realizar. Nem mesmo o problema ocorrido com o couro dos instrumentos já separados para o desfile, que para muitos foi motivado por sabotagem, diminuía o ânimo dos componentes.
O belo samba de Cabana - oriundo da então pequena Beija-Flor - e Norival Reis, que há dois meses fazia um enorme sucesso nas rádios, era um dos trunfos que a escola apresentaria, ao lado da empatia que o enredo de motivos africanos teria junto ao público. A confiança era total.
A Portela esteve presente na avenida já na apresentação da primeira agremiação, a Unidos de Padre Miguel. Com o enredo "Madureira, seu samba, sua história", a vermelho-e-branco da Zona Oeste carioca enfocava a escola de Madureira, prestando uma homenagem às duas escolas da região: Portela e Império Serrano.
Mal a quarta escola a desfilar terminava sua apresentação, a bateria de Mestre Cinco iniciava sua brilhante jornada, que valeria o primeiro estandarte de ouro da história da Portela. Natal, há pouco tempo enfartado, deixara a casa de saúde para desfilar por sua escola. Vinha, orgulhoso, à frente do cortejo, tendo ao lado a inseparável companhia de um médico, que foi obrigado a se fantasiar.
Três mil portelenses pisaram forte na avenida. Misticismo africano, candomblé e toda a riqueza da cultura afro-brasileira estavam presentes no espetáculo preparado pela Portela. A chegada dos negros ao Brasil estava representada numa bela tela exibida logo no início do desfile.
A dor incomparável do banzo. A luta pela preservação das tradições foi difícil, mas a resistência saiu vitoriosa, apesar das dores da chibata. O negro, como dizia o próprio samba, é sensacional.
As nações africanas, a casa-grande e a senzala. Toda a contribuição do negro para a formação do povo brasileiro. A resposta do público foi imediata, cantando a plenos pulmões o samba que todos já sabiam. Na ala do Donga, as melhores passistas da escola, incluindo um show de Tâmbora Fontinelli, rainha do carnaval portelense. |