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Os escombros da praça XI foram palco para o grande desfile de 1941
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Era dia 21 de fevereiro de 1941. As escolas de samba desfilavam cientes de que o prestígio de que gozavam crescia a cada ano. Nesse carnaval, entretanto, o recrudescimento da guerra na Europa traria como conseqüência um menor destaque para a festa na imprensa. Nada que pudesse abalar a animação dos sambistas, afinal "guerra" ainda era uma palavra distante da realidade dos poetas do morro.
Em uma Praça Onze já bastante destruída e repleta de entulho, a Portela se preparava para mais um desfile. "Onde está o Paulo?" era uma pergunta constante entre os quase 400 portelenses que se preparavam na concentração. Paulo da Portela viajara para São Paulo em companhia de Cartola e Heitor dos Prazeres e até aquele momento não havia retornado.
Mesmo com o clima tenso e de expectativa, Manuel Bam Bam Bam, o famoso valentão e mestre-sala da Portela, divulga para a imprensa presente a ficha técnica da escola.
1ª Parte: 30 baianas;
2ª Parte: 12 cadetes;
3ª Parte: 12 acadêmicos;
4ª Parte: 20 árabes;
5ª Parte: 40 pessoas representando Justiça e União;
Coral Masculino: 100 pessoas;
Bateria: 100 pessoas.
A Portela se preparava para contar sua própria história nesses 10 anos de desfiles. Haveria a associação de cada enredo apresentado pela escola com um ano de governo Vargas. As fantasias estavam luxuosas. O trabalho de Paulo e Lino, meticulosamente preparado, tinha tudo para trazer o título pela terceira vez para Oswaldo Cruz. A alegoria do cavalo Mossoró seria revivida. A confiança era total. Mas faltava Paulo. Paulo trazia confiança para todos, onde ele estava? O momento do desfile se aproximava e a tensão crescia entre os componentes.
Quase na hora de a escola entrar eis que surge Paulo, acompanhado de Cartola e Heitor dos Prazeres. Trajavam roupas pretas, como era hábito do conjunto carioca, formado por estas três sumidades da música brasileira. Ao avistar Heitor se aproximando, o sangue de Manoel Bam Bam Bam ferveu. Lembrou-se naquele instante de 1929, do desentendimento entre Heitor e seu amigo Rufino e da navalhada desferida por ele mesmo contra seu desafeto. Alegando uma determinação do próprio Paulo, o que é confirmado por praticamente todos os portelenses que viveram aquele momento, Manuel Bam Bam Bam impede Paulo e seus amigos de desfilarem pela escola trajando roupas que não fossem azul e branco. Bam Bam Bam ainda abre uma exceção para Paulo, afinal ele era a figura mais importante da escola, mas não poderia permitir que Cartola e, principalmente, Heitor, participassem do desfile trajando aquelas roupas. Paulo, solidário com seus companheiros de conjunto, desiste de desfilar por sua escola do coração, escola que surgiu principalmente por sua iniciativa e capacidade de liderança.
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